O número de desertores norte-coreanos que foram para a Coreia do Sul quase triplicou em 2023 em comparação com os dois anos anteriores, segundo dados apresentados pelo Ministério da Unificação sul-coreano na quinta-feira (18). As informações são da rede CNN.
No ano passado, 196 desertores chegaram, a maioria na faixa dos 20 e 30 anos, sendo 84% mulheres ou meninas. Apesar de ser uma fração dos números pré-pandêmicos (1.047 em 2019), representa um aumento significativo após uma queda durante a pandemia de Covid-19.
Em 2020, a Coreia do Norte fechou suas fronteiras já restritas, intensificando seu isolamento. Apenas 63 pessoas conseguiram entrar na Coreia do Sul em 2021, e 67 em 2022, conforme dados do governo.
Em 2023, o país começou a flexibilizar suas restrições, permitindo que cidadãos no exterior retornassem e retomando voos internacionais para alguns países, incluindo China e Rússia. No entanto, o Ministério da Unificação indicou que alguns norte-coreanos que residiam fora optaram por não retornar, escolhendo, em vez disso, fugir para o Sul.
No ano passado, ao menos dez norte-coreanos de posições sociais importantes, como diplomatas e outros funcionários estatais, fizeram a travessia, maior contingente desse grupo desertando desde 2017, de acordo com informações da pasta. Esses indivíduos foram orientados a retornar à Coreia do Norte à medida que a pandemia evoluía, mas muitos optaram por fugir para o Sul, possivelmente devido à experiência da liberdade no exterior e às crescentes dificuldades econômicas e controles internos em seu país de origem, conforme explicou um servidor do ministério.
A principal razão para as deserções em 2023, de acordo com autoridades sul-coreanas, foi o descontentamento com o regime de Kim Jong-un, seguido pela escassez de alimentos e fome na Coreia do Norte, que antes eram as razões mais frequentemente citadas nos últimos anos.
Enquanto milhões de norte-coreanos enfrentam extrema pobreza sob a ditadura, a elite do país, formada por altos funcionários do governo e suas famílias, aproveita luxos como ar-condicionado, café e smartphones. No entanto, esses dispositivos só têm acesso a uma intranet rigidamente censurada controlada pelo governo. Essa elite reside principalmente em Pyongyang, onde alguns privilegiados desfrutam de facilidades como cinemas, lojas de departamento e academias cobertas.
Mais felizes
Um estudo recente mostrou que um número recorde de pessoas que fugiram da Coreia do Norte está feliz com suas novas vidas na Coreia do Sul. O fator mais importante para essa satisfação parece ser a liberdade, superando até mesmo a segurança alimentar e as oportunidades de trabalho e estudo, segundo informações da rede Deutsche Welle.
Os resultados do estudo foram conduzidos pela Korea Hana Foundation, uma organização sem fins lucrativos em Seul, criada para auxiliar desertores a se estabelecerem no Sul, conforme estabelecido pelo Ministério da Unificação da Coreia do Sul em 2010.
O relatório entrevistou 2,5 mil refugiados desde janeiro de 1997. Os resultados mostram que 79,3% deles se declararam “satisfeitos”, um aumento em comparação com os 72,5% de 2018.
Entre os entrevistados, 41% dos desertores se sentem felizes devido à “liberdade”. Outro ponto importante revelado no estudo foi um aumento significativo no emprego, com 65,3% trabalhando, comparado a menos da metade em 2011. Apesar disso, o salário médio dos desertores é cerca de R$ 9 mil, consideravelmente abaixo da média nacional sul-coreana de R$ 15,3 mil.