Desinformação russa e chinesa no Ocidente semeou desconfiança durante a pandemia

Países usaram aparato estatal para impulsionar desinformação sobre as origens do Covid-19, tratamentos sem efetividade comprovada e eficácia de vacinas

Um estudo publicado nesta quinta-feira (2) aponta que China e Rússia usaram meios estatais para impulsionar desinformação sobre as origens do coronavírus, promovendo tratamentos sem efetividade comprovada e contestando a eficácia de vacinas. A estratégia, iniciada logo no surgimento do Covid-19 na cidade chinesa de Wuhan, teve como objetivo semear desconfiança quanto às ações dos governos ocidentais, conta reportagem da rede Radio Free Europe.

O trabalho realizado pelo Centro de Análise de Política Europeia (CEPA) descobriu que, apesar de ambos os países terem centralizado a disseminação de fake news e propaganda relacionadas ao Covid-19, eles seguiram abordagens completamente diferentes. O relatório também revela que, recentemente, incrementaram as campanhas um do outro.

De um lado, Beijing usou de toda sua gama de agências estatais multilíngue, redes sociais e funcionários do governo para tentar provar ao mundo que não tem culpa pela origem da pandemia e é o principal aliado global na luta contra a doença. Do outro, Moscou lançou esforços para vilipendiar o Ocidente e suas estratégias sanitárias de combate ao coronavírus.

Médicos e funcionários da saúde em hospital improvisado em Wuhan, na China (Foto: Divulgação/ UN News/Sang Huachao )

“A Rússia seguiu amplamente seu manual preexistente de usar crises para inflamar tensões em sociedades estrangeiras”, afirma o relatório. “A China pegou emprestadas algumas ferramentas da Rússia, mas as usou para fins diferentes, higienizando seu próprio registro e espalhando teorias da conspiração em escala global”, diz o estudo.

O relatório baseou-se em estudos anteriores para buscar entender como a campanha de desinformação de russos e chineses evoluiu durante a pandemia, debruçando-se sobre um banco de dados contendo cerca de 144 mil peças, entre artigos e publicações de redes sociais no período entre março de 2020 e março de 2021.

Para Edward Lucas, pesquisador sênior do CEPA e um dos autores do relatório, a China se apoia seletivamente no manual da Rússia, mas isso tem seus limites. “Beijing está tentando enviar uma mensagem de autoconfiança e uma mensagem consistente sobre as habilidades [do Partido Comunista], enquanto as campanhas russas estão mais focadas em criar o caos, independentemente de contradizer a versão oficial do Kremlin”, avalia o estudioso.

Entre as conclusões do estudo está a afirmação de que as táticas da China ganharam intensidade após o então presidente dos EUA Donald Trump e proeminentes conservadores americanos sugeriram que o coronavírus teria escapado de um laboratório chinês.

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