Dezenas são detidos em Yerevan em protestos pela destituição do primeiro-ministro armênio

Manifestantes exigem a renúncia de Nikol Pashinyan em resposta à ofensiva do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh, região em disputa

Nesta sexta-feira (22), durante protestos na capital armênia contra o governo do primeiro-ministro Nikol Pashinian, dezenas de pessoas foram detidas. A polícia local informou que 84 foram presas sob acusação de desobedecer às ordens das autoridades, número questionado por grupos de oposição, que falam em 350 manifestantes levados sob custódia. As informações são da rede Radio Free Europe.

A ação das forças de segurança ocorreu após os líderes oposicionistas terem organizado bloqueios de ruas e outros atos de protesto, com o objetivo de pressionar Pashinian, que enfrenta um crescente descontentamento popular, a renunciar ao cargo.

Os manifestantes se comprometeram a continuar suas ações até que Pashinian seja destituído e anunciaram sua intenção de interromper uma reunião de gabinete, marcada para o final do dia.

O primeiro-ministro Nikol Pashinian está lidando com a insatisfação popular em relação ao seu governo (Foto: WikiCommons)

A polícia, que vem usando bombas de efeito moral durante os confrontos com os manifestantes desde o início dos protestos em Yerevan na quarta-feira (20), avisou que adotará “medidas especiais” caso os confrontos persistam. Há dois dias, os insurgentes quebraram as janelas dos edifícios do governo localizados na Praça da República, no centro da capital, durante confrontos com as forças policiais enquanto tentavam entrar.

Entre os detidos na manifestação desta sexta estaria um dos organizadores do protesto, Andranik Tevanian, posteriormente liberado após ser interrogado pela Comissão de Investigação. Tevanian havia declarado durante os protestos de quinta-feira (21) que a destituição de Pashinian aconteceria em breve, até mesmo “em questão de dias”, por meio de “esforços disciplinados e unidos”.

Pashinian foi alvo de críticas pela maneira como o governo lidou com o ataque repentino do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh no início desta semana. Nagorno-Karabakh é uma conturbada região de grande população de etnia armênia, localizada dentro do território azerbaijano. Ambos os países reivindicam a área e houve conflitos armados recorrentes a respeito dessa questão desde o colapso da União Soviética em 1991.

Azerbaijão alega que sua ação militar, a qual classificou como “operação antiterrorista”, trouxe Nagorno-Karabakh de volta sob seu controle. Dezenas de civis e soldados foram mortos e feridos na região montanhosa do Sul do Cáucaso.

Nesta sexta, Pashinian declarou que Yerevan aceitaria armênios étnicos que decidissem deixar Nagorno-Karabakh, mas ressaltou que um reassentamento em grande escala só ocorreria se eles não conseguissem mais permanecer na região.

Os manifestantes criticaram o que consideram um apoio insuficiente do governo à comunidade armênia na região conflituosa. Paralelamente, líderes da oposição anunciaram planos para iniciar um processo de impeachment contra Pashinian.

Anistia

Enquanto manifestantes contrários ao governo bloqueavam estradas e se reuniam na Praça da República central de Yerevan na manhã (horário local) desta sexta, Pashinian expressou a “esperança de que os armênios étnicos que vivem em Nagorno-Karabakh possam permanecer na região”.

Ao mesmo tempo, o Azerbaijão sugeriu que planeja conceder anistia aos combatentes armênios em Nagorno-Karabakh que entregarem suas armas durante um cessar-fogo que interrompeu os combates. O confronto teve início quando as forças do Azerbaijão lançaram uma ofensiva de 24 horas entre 19 e 20 de setembro.

Durante o conflito, os cerca de dois mil soldados de forças manutenção da paz russas pareciam não estar dispostas a intervir ou demonstravam incapacidade para fazê-lo. Ao mesmo tempo, Baku parecia recusar os apelos à paz feitos por Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, e outros diplomatas ocidentais.

Desde o início dos combates, Pashinyan, que liderou a Armênia durante sua derrota na segunda guerra de Karabakh há três anos, deixou claro que não planejava autorizar uma intervenção militar para combater a ofensiva do Azerbaijão.

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