Ação militar do Azerbaijão abre caminho para uma nova guerra com a Armênia

Ofensiva azeri em Nagorno-Karabakh remete aos conflitos anteriores entre os dois países, que mataram quase 40 mil pessoas

O Azerbaijão iniciou nesta terça-feira (19) uma ofensiva militar na disputada região de Nagorno-Karabakh, argumentando se tratar de uma “operação antiterrorismo”. Grupos étnicos armênios que reivindicam a área como seu território ancestral alegam que crianças estão entre as vítimas dos ataques, segundo informações da rede Radio Free Europe (RFE).

Nagorno-Karabakh é um território ocupado por uma maioria armênia cristã que declarou independência do Azerbaijão, país majoritariamente muçulmano, desencandeando uma guerra que foi de 1992 a 1994. O conflito causou 30 mil mortes e desalojou centenas de milhares de pessoas, com a reivindicação de independência dos armênios não sendo reconhecida por nenhum país.

Desde 1994, a região é controlada por forças que, segundo o Azerbaijão, incluem tropas fornecidas pela Armênia. Após um cessar-fogo estabelecido com a ajuda de Rússia, EUA e França, um novo conflito armado entre os dois países eclodiu em 2020 e durou 44 dias, com mais 6,5 mil mortos, aproximadamente.

Desfile do exército do Azerbaijão após guerra contra a Armênia, dezembro de 2020 (Foto: WikiCommons)

Um novo acordo de paz foi firmado, este mediado pela Rússia, no início de 2021. Mas ele é visto com desconfiança pela população armênia. O ataque desta terça representa uma quebra definitiva desse cessar-fogo, abrindo a possibilidade de um novo conflito entre Azerbaijão e Armênia.

No início da manhã, pelo horário de Brasília, começaram a surgir nas redes sociais relatos de ataques aéreos azeris, alguns deles acompanhados com vídeos. As forças armadas do Azerbaijão teriam usado drones turcos Bayraktar para bombardear o território ocupado pelos armênios.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou em comunicado que “apenas alvos militares legítimos foram destruídos”. Porém, a Armênia nega ter forças em Nagorno-Karabakh e alega que o governo azeri “violou o cessar-fogo ao longo de toda a linha de contato, com ataques de mísseis e artilharia.” Já as autoridades locais dizem que dois civis foram mortos e 23 ficaram feridos, inclusive oito crianças.

Nikol Pashinian, o primeiro-ministro armênio, instou a Rússia, mediadora da paz, que mantém tropas na região, e as autoridades internacionais a agirem. “Em primeiro lugar, a Rússia deve tomar medidas. Em segundo lugar, esperamos que o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) também tome medidas”, disse.

A ofensiva foi condenada globalmente, inclusive por Moscou. A ministra russa das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que seu governo vê com preocupação os desdobramentos mais recentes e prometeu que as forças de paz continuariam a atuar na região. Segundo ela, a Rússia recebeu de Baku, com “alguns minutos” de antecedência, um alerta de que o ataque seria lançado.

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, reforçou a posição de que seu país trabalha para restabelecer a paz. “Da forma como vemos as coisas, é nos acordos que confiamos. Continuamos os nossos contatos tanto com Baku como com Yerevan”, disse ele, segundo a agência Tass.

Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), condenou a operação em post na rede social X, antigo Twitter. “A UE condena a escalada militar em Karabakh e lamenta a perda de vidas. Apelamos à cessação imediata das hostilidades e ao Azerbaijão para parar as atuais atividades militares. É necessário o compromisso de todas as partes para trabalhar em prol de resultados negociados.”

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