Diretor canadense acusa Beijing de interferir no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura

Bob Pickard, que fugiu para Tóquio, diz que Partido Comunista Chinês instalou uma “polícia secreta interna” na instituição financeira

O canadense Bob Pickard, diretor-geral de comunicações do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), deixou Beijing às pressas nesta quarta-feira (14). Ele disse que temia por sua segurança após acusar o Partido Comunista Chinês (PCC) de se infiltrar na instituição financeira, criada como alternativa ao Banco Mundial. As informações são do jornal Financial Times (FT).

“Apresentei minha renúncia como chefe global de comunicações do @AIIB_Official. Como canadense patriota, esse era meu único curso. O banco é dominado por membros do Partido Comunista e também possui uma das culturas mais tóxicas que se possa imaginar. Não acredito que os interesses do meu país sejam atendidos por seus membros do AIIB”, disse Pickard no Twitter.

Em entrevista ao FT, Pickard reforçou as denúncias e disse que o PCC atua como um “governo invisível dentro do banco”, uma espécie de “polícia secreta interna”.

Sediado em Beijing, o AIIB tem a China como maior acionista, com 26,6% das ações com direito a voto. Porém, entre os demais membros há várias nações ocidentais, como Canadá, Reino Unido, Itália e França. Desde sua fundação, em 2016, a instituição tem batalhado para transmitir uma imagem de independência em relação ao governo chinês, proposta que sofre um duro baque com a manifestação de Pickard.

De acordo com o canadense, todos os departamentos do banco contam com representantes do PCC, que agem discretamente para que a instituição funcione conforme os interesses de Beijing. “Internamente, levantei minhas preocupações sobre a influência do PCC. Quando você trabalha lá por um tempo, percebe que realmente é a mão escondida dentro do banco”, disse ele.

Em carta aos funcionários, o presidente Jin Liqun, um ex-vice-ministro do governo da China, admitiu o problema que tende a ser gerado pelas declarações do ex-funcionário. “Reconhecemos a incerteza que esses comentários podem causar a todos nós que trabalhamos no AIIB”, diz o texto. 

Sede do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (Foto: WikiCommons)
“São e salvo”

Em sua conta no Twitter, Pickard passou a responder a diversos comentários de pessoas que se dirigiram a ele após o pedido de demissão. Entre outras coisas, afirmou que está agora “são e salvo” em um “país livre e democrático”. Não deixou claro, porém, se está em Tóquio, para onde fugiu ao deixar a China.

E fortaleceu a denúncia. “O público ocidental não está sendo atendido por sua associação ao AIIB. Eu vi com meus próprios olhos até que ponto os hacks do Partido Comunista ocupam posições-chave no banco, como uma KGB interna, Gestapo ou Stasi”, afirmou em um post, citando as polícias secretas da ex-União Soviética, da Alemanha nazista e da antiga Alemanha Oriental.

Em comunicado, o banco destacou sua multilateralidade e chamou de “infundadas e decepcionantes” as acusações. “Estamos orgulhosos de nossa missão multilateral e temos uma equipe internacional diversificada representando 65 nacionalidades e membros diferentes no AIIB, atendendo nossos 106 membros em todo o mundo, muitos dos quais estão conosco desde nossa formação em 2016.”

Pouco depois de o escândalo estourar, o jornalista canadense Steven Chase, do jornal Globe and Mail, anunciou a primeira reação do governo canadense. “A vice-primeira-ministra Chrystia Freeland anuncia que o Canadá suspendeu imediatamente todas as atividades com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura liderado pela China e lançou uma revisão da associação do Canadá ao AIIB e das alegações de controle pelo Partido Comunista Chinês”, disse ele no Twitter.

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