Em busca de mais soldados, Mianmar proíbe que homens do país trabalhem no exterior

Forças do governo acumulam derrotas nos confrontos com grupos rebeldes e tentam ampliar o efetivo militar para evitar o fim do regime

Ampliar o efetivo das Forças Armadas está entre as prioridades da junta militar que governa Mianmar, conforme acumula derrotas nos confrontos contra grupos rebeldes que tentam derrubar o regime. Em busca de mais soldados, uma estratégia adotada pelo país foi a proibição de que os homens trabalhem no exterior, mantendo-os ao alcance dos recrutadores. As informações são da rede BBC.

Nos últimos meses, conforme o governo intensifica os esforços de recrutamento militar baseados em uma lei de fevereiro, cada vez mais cidadãos em idade de alistamento têm deixado o país. Isso levou à decisão de encerra as emissões de autorizações para trabalho no exterior.

Em Mianmar, homens entre 18 e 25 anos e mulheres de 18 a 27 são obrigados a prestar serviço militar, o que os coloca no raio de ação do governo como reservistas. Nos últimos três meses, mais de cem mil pedidos de autorização para trabalho no exterior foram feitos, um número excepcionalmente elevado.

Min Aung Hlaing, general que lidera a junta em Mianmar desde o golpe de Estado (Foto: WikiCommons)

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem atualmente mais de quatro milhões de cidadãos de Mianmar trabalhando no exterior. Cerca de metade dessas pessoas está na Tailândia, embora os dados não apontem quantos são homens e quantas são mulheres.

O grupo independente Estudo de Assuntos e Conflitos da Birmânia afirma que foram realizadas operações de recrutamento em ao menos 224 municípios do país. Cerca de cinco mil jovens foram obrigados a se juntar às Forças Armadas até o final de março, levados a 15 locais de treinamento.

A mobilização surge conforme os militares sofrem perdas significativas devido à ofensiva da Tríplice Aliança, uma coalizão rebelde composta por três grupos: o Exército Arakan, o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (MNDAA) e o Exército de Libertação Nacional de Ta’ang.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU. A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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