EUA e China trocam acusações após incidente com navio de guerra americano

Marinha dos EUA nega que contratorpedeiro tenha sido expulso e diz que "conduz operações de rotina" em região onde o acesso é legal

Militares chineses disseram ter expulsado um navio de guerra dos Estados Unidos no disputado Mar da China Meridional nesta quinta-feira (23). Washington rejeitou as alegações de que teria entrado ilegalmente nas águas, justificando que estava coordenando exercícios legais na região. As informações são do jornal The Guardian.

Em comunicado, Beijing disse que o contratorpedeiro USS Milius “se intrometeu ilegalmente nas águas territoriais das Ilhas Xisha, também conhecidas como Paracel, sem a aprovação do governo chinês”, acrescentando que as forças chinesas monitoraram, alertaram a embarcação e, depois, a expulsaram.

Em resposta, a Marinha dos Estados Unidos tratou o incidente como falso.

“O USS Milius está realizando operações de rotina no Mar da China Meridional e não foi expulso. Os Estados Unidos continuarão a voar, navegar e operar onde quer que a lei internacional permita”, disse um comunicado da Sétima Frota da Marinha dos EUA.

USS Milius, contratorpedeiro da Marinha dos EUA (Foto: Damian Gadal/Flickr)

Postagens nas redes sociais do Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos confirmam que vários exercícios da Marinha dos EUA estão em andamento na região do leste asiático nos últimos dias, incluindo o Mar da China Oriental, o Mar das Filipinas e o Mar da China Meridional.

Em coletiva de imprensa diária, o Ministério de Relações Exteriores da China reforçou a posição de Beijing de que um navio norte-americano invadiu suas águas. E pediu a Washington que “pare com tais provocações”.

“A China tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar sua soberania e segurança e manter a paz e a estabilidade no Mar da China Meridional”, disse o porta-voz Wang Wenbin.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países da região, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

O Mar da China Meridional é alvo de disputas geopolíticas entre diversas nações asiáticas. Além da China, estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan. E não é à toa: as rotas mantêm um fluxo de comércio anual de US$ 3,4 trilhões.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, o que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para patrulhar, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”. 

Tags: