Os Estados Unidos revelaram a existência de uma força-tarefa avançada baseada nas Filipinas para apoiar operações marítimas do país no Mar da China Meridional. Batizada de Força-Tarefa Ayungin, ela é composta por militares norte-americanos e foi apresentada durante a visita do secretário de Defesa, Lloyd Austin, à província filipina de Palawan. As informações são do site USNI News.
A força-tarefa, criada para fortalecer a interoperabilidade entre os dois países, atua em planejamento e treinamento junto ao Comando Ocidental das Forças Armadas das Filipinas, que frequentemente encontra forças chinesas na área conhecida como Mar Ocidental das Filipinas, uma zona econômica exclusiva reivindicada por Manila.
Entre as contribuições dos EUA, destacam-se drones marítimos financiados sob o programa de assistência militar estrangeira, que foram exibidos durante a visita de Austin à base aérea Antonio Bautista.
Incidentes recentes entre Manila e Beijing, especialmente nas proximidades do recife de Second Thomas Shoal, intensificaram a necessidade de cooperação. O local, que abriga o BRP Sierra Madre, um navio encalhado da Segunda Guerra Mundial, tem sido palco de confrontos relacionados à reposição de suprimentos e rotação de pessoal.
“O reabastecimento é sempre uma operação puramente filipina”, enfatizou um conselheiro de segurança nacional das Filipinas, reafirmando a autonomia do país e negando apoio dos EUA em tais operações.
Desde a assinatura de um acordo preliminar em junho de 2024, as missões de reabastecimento seguiram sem interferências chinesas, sinalizando uma relativa redução nas tensões. Apesar disso, os EUA têm reforçado sua presença na região, incluindo o uso de drones e aeronaves para monitorar e proteger as operações filipinas.
“A relação entre as forças dos EUA e das Filipinas é sólida há décadas. Esta força-tarefa representa a continuidade de uma parceria duradoura em prol da segurança regional”, afirmou o porta-voz do Pentágono major Pete Nguyen.
Com uma assistência militar total de US$ 500 milhões anunciada em julho, a expectativa é de que mais drones e recursos tecnológicos fortaleçam as operações filipinas no Mar da China Meridional, uma região estratégica e cada vez mais disputada.
Por que isso importa?
Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial ocorreu no atol de Scarborough Shoal, hoje sob controle chinês. Mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.
Embora Second Thomas Shoal esteja na ZEE filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.
Mais recentemente, Beijing adotou estratégia semelhante em Sabina Shoal, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.
Embora as Filipinas tenham conseguido se estabelecer em duas das três áreas disputadas, têm poucas alternativas para resistir a uma eventual agressão chinesa. Apostam tudo no Tratado de Defesa Mútua de 1951 com os EUA, que prometem partir em defesa do aliado se este for atacado.
Beijing, entretanto, não se deixa afetar. “A China está deliberadamente escalando a situação, com uma provável intenção de testar até que ponto Washington apoiaria Manila”, avaliou à rede CNN Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura. “Os chineses sabem que Manila tem opções muito limitadas se não puder depender da ajuda dos EUA.”