Filipinas se dizem ‘seriamente preocupadas’ com a construção de ilhas artificiais pela China

Beijing estaria em busca do controle de novos territórios nas disputadas Ilhas Spratlys, segundo apontam imagens de satélite

As Filipinas disseram nesta quarta-feira (21) que estão “seriamente preocupadas” após uma reportagem da rede Bloomberg apontar que a China tem trabalhado na recuperação de quatro áreas desocupadas no disputado Mar da China Meridional. Mais especificamente na Ilhas Spratly, onde Beijing estaria intensificando a construção de ilhas artificiais

Além de mostrar imagens de satélite para sustentar suas alegações, a matéria, que definiu a situação como “uma onda de construção em recifes desocupados”, cita autoridades ocidentais não identificadas, que dizem que “novas formações terrestres” surgiram em torno das disputadas Ilhas Spratly. Lá, um navio chinês com uma escavadeira hidráulica foi visto operando ao longo dos últimos anos.

As fontes não identificadas também disseram que atividades de construção semelhantes estão ocorrendo em Lankiam Cay (Ilha Panata), Whitsun Reef e Sandy Cay.

“Estamos seriamente preocupados porque tais atividades violam a Declaração de Conduta sobre o compromisso do Mar da China Meridional sobre autocontenção e a Sentença Arbitral de 2016”, disse o Departamento de Relações Exteriores em um comunicado enviado à imprensa.

Filipinas exigem retirada de 200 navios chineses em recife disputado
Mar do Recife de Whitsun, no arquipélago de Spratly, reivindicado diversas nações, em setembro de 2011 (Foto: Divulgação/Winter is Coming)

A embaixada chinesa nas Filipinas classificou o relatório como “notícia falsa” nesta quarta. E sugeriu que a imprensa buscasse informações mais precisas com o instituto Iniciativa de Sondagem do Mar da China Meridional (SCSPI, da sigla em inglês), uma “rede internacional de pesquisa e não filiada a nenhuma instituição”, como se descreve. Porém, ao que consta, o SCSPI é um think tank chinês apoiado pelo Estado.

Pelo Twitter, o instituto disse que o relatório é “100% fake news“, alegando que as formações de terra atuais são fenômenos anuais.

“Em primeiro lugar, das quatro características mencionadas, bancos de areia e formações de Lankiam Cay, Eldad Reef e Whitsun Reef mudam naturalmente a cada ano. Em segundo lugar, Sandy Cay é ocupada pelo Vietnã, onde é ridículo culpar a China!”

Já o Ministério das Relações Exteriores da China, ao ser solicitado a comentar as alegações, se limitou a dizer que “o relatório é puramente feito do nada”.

Além de China e Filipinas, as Ilhas Spratly têm como postulantes à soberania Taiwan, Vietnã, Brunei e Malásia. Não é à toa que a região é alvo de disputas geopolíticas: as rotas mantêm um fluxo de comércio anual de US$ 3,4 trilhões.

Beijing militarizou totalmente três de suas ilhas artificiais, atividade classificada por Hanói como “ilegal”.

Discordância

Um oficial militar das Filipinas, que falou sob condição de anonimato, disse que não havia reivindicações chinesas monitoradas nas áreas listadas na reportagem da Bloomberg.

“Com base em nossas patrulhas, não notamos (recuperações chinesas)”, disse a fonte oficial que pediu anonimato porque não estava autorizada a falar com repórteres sobre o assunto, acrescentando que “eles não indicaram construção”.

A Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia (AMTI, da sigla em inglês), vinculada ao think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Washington, fez leitura parecida da situação.

“A China não ocupou uma área nova desde dezembro de 1994 e não construiu nada que já não ocupasse”, disse o diretor da AMTI, Greg Poling, acrescentando que “as imagens comerciais não podem corroborar” as alegações da Bloomberg.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para patrulhar, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

 

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