Fotos mostram ilhas artificiais do Mar da China Meridional altamente militarizadas por Beijing

Fotos mostram recifes e rochas que a China converteu em bases militares com radares, pistas de pouso e decolagem e mísseis

Os indícios são cada vez maiores de que a China militarizou três ilhas artificiais que o país construiu no Mar da China Meridional. Novas fotos divulgadas recentemente pela agência Getty reforçam as suspeitas, de acordo com a rede Radio Free Asia (RFA).

O governo norte-americano levantou a questão há algum tempo, mas até então só era possível calcular o poder militar chinês na área com base em imagens de satélite.

Em março deste ano, o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, havia dito que a China militarizou totalmente três das diversas ilhas artificiais construídas no Mar da China Meridional. São as ilhas Mischief Reef, Subi Reef e Fiery Cross, no arquipélago Spratly, sobre o qual Beijing reivindica “direitos históricos”.

Aquilino citou a instalação de sistemas de mísseis antinavio e antiaéreos, equipamentos de laser e interferência e caças da força aérea, movimento classificado como “uma ameaça às nações que operam nas proximidades”.

Marinha chinesa realiza treinamento nas aguas de Qingdao (Foto: eng.chinamil.com.cn/)

As fotos recentes, feitas na terça-feira passada (25) pelo fotógrafo Ezra Acayan, confirmam a alegação, ao mostrarem recifes e rochas que a China converteu em bases militares com estações de radar, pistas de pouso e decolagem, postos de artilharia e inúmeros edifícios.

As fotos mostram instalações incrivelmente desenvolvidas, sobretudo em Fiery Cross. Lá é possível identificar uma pista de pousos e decolagens totalmente operacional, hangares para aviões e prédios cujas funções não se pode precisar. Há, inclusive, um avião trafegando na pista em uma das imagens.

Tom Shugart, membro sênior adjunto do think tank Centro para uma Nova Segurança Americana, de Washington, analisou as imagens e se manifestou no Twitter. Segundo ele, é provável que armamento militar de última geração tenha sido instalado nas ilhas artificiais.

“Meu palpite é que as garagens voltadas para o mar são para lançadores de mísseis de cruzeiro angulares (para mísseis de ataque terrestre anti-navio YJ-12 ou CJ-10) (esquerda), enquanto os edifícios de teto retrátil são para SAMs de lançamento vertical (como HQ -9, à direita)”, disse ele, que publicou fotos ilustrativas sobre alguns dos armamentos citados.

De acordo com Shugart, as imagens “desmentem a ideia de que essas ilhas foram construídas para a segurança da navegação de todos”. E afirmou: “São bases militares. Ponto”.

‘Prevenção à guerra’

Grande parte do foco no Mar da China Meridional na última década centrou-se nas disputas territoriais entre a China e os reclamantes do Sudeste Asiático, FilipinasVietnã, Malásia, BruneiTaiwan. Bem como em uma disputa geopolítica entre a China e os Estados Unidos sobre a liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram as reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional, erguendo bases insulares em atóis de coral há quase dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações, há décadas têm navios e aeronaves da Marinha na patrulha e na promoção da navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Por que isso importa?

Os chineses ostentam o segundo maior orçamento de defesa do mundo, ficando atrás somente dos EUA. Com o dinheiro investido nas forças armadas nos últimos anos, Beijing tem hoje a maior marinha do mundo, à frente da norte-americana, o maior exército permanente do mundo e um arsenal balístico e nuclear capaz de rivalizar com qualquer outro. 

A marinha chinesa tem dois porta-aviões ativos e 360 navios, no que supera inclusive os EUA, estes com 300 embarcações militares. Já o exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, maior que o de qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,4 milhão de tropas, contra 1,35 milhão dos EUA, de acordo com o site World Atlas.

arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório recente do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.

O investimento chinês levou a uma corrida armamentista na região da Ásia-Pacífico, onde os gastos com Defesa ultrapassaram US$ 1 trilhão somente em 2021, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. Beijing puxa esses números para cima, tendo aumentado seu orçamento militar por 27 anos consecutivos, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.

Em artigo publicado no jornal South China Morning Post em janeiro deste ano, Mark J. Valencia, analista de política marítima, comentarista político e consultor internacionalmente reconhecido com foco na Ásia, fez uma previsão alarmante para a região.

“A China e os EUA estão flertando com um desastre no Mar da China Meridional. Eles estão se apalpando como pugilistas no primeiro assalto. Até agora, eles evitaram uma colisão frontal, mas esta pode ser apenas a calmaria antes da severa tempestade militar”, disse ele no texto.

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