Grupo de oposição condena apoio da Rússia à junta militar de Mianmar

Frente formada por partidos políticos e organizações da sociedade civil critica apoio político de Moscou e venda de armas ao regime

O Conselho Consultivo da Unidade Nacional (NUCC, da sigla em inglês), um grupo formado por partidos políticos e organizações da sociedade civil que se opõem à junta militar de Mianmar, emitiu uma declaração condenando o apoio político do governo russo e a contínua venda de armas ao regime por parte de Moscou. As informações são da rede Radio Free Asia.

A declaração destacou a comparação entre a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado e os assassinatos em massa e atrocidades ocorridos em Mianmar após a tomada do poder pela junta em um golpe de Estado em fevereiro de 2021.

De acordo com a declaração, “a Rússia, ao apoiar e defender abertamente o regime terrorista, está prolongando o sofrimento do povo de Mianmar”. Além disso, foi enfatizado que o apoio e a defesa do regime terrorista por Moscou não têm como objetivo resolver os problemas políticos em Mianmar, mas sim “promover os interesses geopolíticos” russos.

Putin e Aung Hlaing durante o Fórum Econômico Oriental, em setembro de 2022 (Foto: Kremlin.ru)

O NUCC engloba representantes do autodenominado Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), que estabeleceu um regime paralelo para enfrentar os militares no poder desde o golpe. Inclui ainda grupos da sociedade civil, organizações étnicas armadas e grupos de desobediência civil.

Desde o golpe, o líder da junta, general Min Aung Hlaing, realizou três visitas à Rússia, adquirindo caças a jato modernos, helicópteros e equipamentos militares de fabricação russa. Além disso, os dois países assinaram um acordo para a construção de um reator nuclear de pequena escala em Mianmar.

A declaração do NUCC enfatizou a necessidade de interromper imediatamente o apoio da Rússia ao projeto de construção do reator, pois isso resultaria em instabilidade política tanto em Mianmar quanto na região.

O comunicado acrescentou: “O apoio diplomático e militar fornecido pela Rússia é o alicerce para que o grupo terrorista de Min Aung Hlaing ignore completamente os acordos estabelecidos dentro da Asean [Associação das Nações do Sudeste Asiático] e também dificulta os esforços de outras nações em trabalhar para resolver as questões políticas de Mianmar”.

As preocupações têm lógica. Em fevereiro, Hlaing enviou uma carta ao presidente russo, Vladimir Putin, expressando sua gratidão pelo apoio da Rússia ao país. A mensagem foi enviada para marcar o 75º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países.

Em resposta, o chefe do Kremlin enviou uma mensagem expressando sua crença de que o relacionamento entre a Rússia e a junta militar de Mianmar contribuirá para a segurança e a estabilidade da região da Ásia-Pacífico.

Cooperação deve continuar

Segundo Aung Thu Nyein, pesquisador tailandês de questões relacionadas a Mianmar, simplesmente condenar a Rússia, que parece não se importar com as sanções internacionais, “não será eficaz”.

Ele afirmou que o poder de veto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), sua assistência militar e a recente visita de um representante do parlamento russo a Mianmar mostram que a cooperação com a junta continuará, independentemente das críticas.

No entanto, o analista político Than Soe Naing argumentou que a declaração do NUCC era necessária, e objeções semelhantes também deveriam ser levantadas em relação à China.

Ele enfatizou que o NUCC “precisa expor e condenar o apoio evidente e a assistência da Rússia à junta militar de Mianmar”, pois essa é a ação necessária a ser tomada.

Um bilhão em armas

Um relatório apresentado na ONU (Organização das Nações Unidas) no mês passado sugere que a junta militar de Mianmar teria importado “pelo menos US$ 1 bilhão em armas e materiais relacionados de países como Rússia, China, Singapura, Tailândia e outros desde o golpe de fevereiro de 2021.”

Uma parte do equipamento foi usada para “atrocidades” cometidas contra civis, disse o relator independente sobre Mianmar, Tom Andrews.

Ao apresentar o documento no Conselho de Direitos Humanos, Andrews disse que as armas continuam a fluir para os militares, apesar do que chamou de “provas esmagadoras”. Ele indica que algumas dessas evidências apontam para delitos que podem configurar crimes de guerra e contra a humanidade.

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