Helicóptero do exército de Mianmar lança bomba em hospital com refugiados de guerra

Forças rebeldes dizem que o ataque teve civis como alvo. Imprensa pró-governo disse que havia combatentes dentro da casa de saúde

Um ataque aéreo realizado pelas forças armadas de Mianmar atingiu um hospital que presta atendimento a refugiados de guerra e civis na terça-feira (25). Três pessoas, entre elas uma enfermeira, ficaram feridas após um helicóptero da junta militar, que governa o país desde um golpe de Estado em 2021, jogar uma bomba de cerca de 230 quilos no edifício. O artefato não explodiu, segundo informações da rede Radio Free Asia.

O hospital e a clínica tiveram parte da estrutura danificada no ataque. Uma das vítimas, uma paciente do sexo feminino, estava internada em estado grave.

Segundo Nay Kaung, um oficial local da Força de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês), grupo armado contra o governo encabeçado pelo general Min Aung Hlaing, não havia membros do movimento de resistência no hospital. “A Junta está mirando nos civis”, disse ele.

Manifestante protesta contra ataques aéreos que têm matado civis em Myanmar desde o golpe de 2021 (Foto: Twitter/Reprodução)

De acordo com o People Media, uma agência de notícias pró-junta, um ataque aéreo foi coordenado no vilarejo de Hsaung Phway, onde fica o hospital. Neste local estariam membros do PDF local e do Partido Progressista Nacional Karenni (KNPP), um braço armado do grupo rebelde Força de Defesa Nacional Karenni (KNDF, na sigla em inglês).

O veículo acrescentou que membros do KNPP e do PDF local montaram acampamento dentro do hospital, e que os profissionais da casa de saúde pública haviam sido “recentemente transferidos da área por motivos de segurança”. 

No entanto, segundo Khoo Nyay Reh, porta-voz do Centro de Informações Militares de Karenni, as tropas rebeldes não ocupam locais como hospitais.

Desde o início deste ano, confrontos intensos têm ocorrido nos municípios de Pekon e Mobye, no Estado de Shan. As forças da junta sofreram baixas durante essas trocas de fogo, e as tropas de Karenni apreenderam várias armas e munições.

A junta não se pronunciou oficialmente sobre o ataque ao hospital.

Embargo de armas

A fim de tentar conter o poder de fogo da força aérea birmanesa, a Anistia Internacional publicou em novembro do ano passado um relatório pedindo a interrupção da cadeia de suprimentos que permite a chegada do combustível para abastecer as aeronaves militares.

“Esses ataques aéreos devastaram famílias, aterrorizaram civis, mataram e mutilaram vítimas. Mas, se os aviões não podem reabastecer, eles não podem voar e causar estragos”, disse a secretária-geral da Anistia, Agnès Callamard.

As tentativas de encerrar o fornecimento de armas à junta, porém, têm falhado. Prova disso surgiu em 15 de dezembro de 2022, durante uma celebração do 75º aniversário da força aérea de Mianmar. Nos festejos, os militares apresentaram novos caças e helicópteros comprados de RússiaChina e Paquistão.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.

O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro de 2022, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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