Homem é condenado por editar vídeo com música de protesto sobre o hino da China

Cheng Wing-chun usou a canção Glory to Hong Kong para embalar as imagens de um esgrimista local recebendo o ouro olímpico

Um homem foi condenado a três meses de prisão em Hong Kong por publicar na internet um vídeo editado que mostra um atleta local recebendo sua medalha olímpica com uma música de protesto ao fundo. Ele foi acusado de insultar o hino da China, segundo informações da agência Reuters.

Na sentença, a juíza Minnie Wat alegou que o réu foi condenado porque o hino nacional é o símbolo da dignidade e da integridade territorial de uma nação.

Trata-se da primeira sentença baseada em uma lei de 2020 que criminaliza o desrespeito ao hino nacional chinês, com penas previstas de até três anos de prisão e multa que pode chegar a 50 mil dólares de Hong Kong (R$ 30,7 mil).

Embora opere sob regime próprio, desde 1997 Hong Kong é considerado um território chinês e adota como hino, portanto, “A Marcha dos Voluntários”, hino nacional da China.

Artistas e manifestantes cantam “Glory to Hong Kong” durante um protesto em um shopping de Hong Kong em setembro de 2019 (Foto: Studio Incendo/WikiCommons)

O vídeo que levou à denúncia e à consequente condenação foi publicado pelo fotógrafo Cheng Wing-chun no YouTube. Ele inseriu a música de protesto Glory To Hong Kong (Glória a Hong Kong, em tradução literal) no momento em que o esgrimista Edgar Cheung recebe o ouro olímpico em Tóquio.

Composta por Thomas DGX YHL, Glory to Hong Kong fala em democracia e liberdade e incomoda o governo chinês, que a considera um estímulo à independência do território semiautônomo.

Nos últimos anos, alguns grandes eventos, sobretudo esportivos, tocaram por engano a canção, popular nos protestos pro-democracia de 2019, como sendo o hino de Hong Kong no lugar de “A Marcha dos Voluntários”.

Um desses episódios ocorreu em novembro de 2022, em um torneio de rúgbi de sete na Coreia do Sul. Antes de as equipes masculinas se enfrentarem na final do Asian Rugby Seven Series, em Incheon, os organizadores executaram Glory to Hong Kong. O mesmo ocorreu no campeonato asiático de levantamento de peso, em Dubai, no início de dezembro.

Beijing atua para proibir legalmente a execução da canção, algo que ainda não aconteceu. O que existe atualmente é uma lei que proíbe o slogan Liberate Hong Kong, revolution of our times (Liberte Hong Kong, revolução dos nossos tempos, em tradução literal), igualmente popular nos protestos. Como parte dele está na letra da canção, as autoridades têm usado essa brecha legal para punir a canção.

O governo chinês trava também uma queda de braços com o Google para que a empresa de tecnologia altere seus resultados de buscas. Isso porque quem procura pelo hino nacional do território vê entre os primeiros resultados a canção popularizada nos protestos. Até hoje o algoritmo não foi alterado como deseja Beijing, que pede somente “A Marcha dos Voluntários” no topo das pesquisas.

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