Hong Kong vai à Justiça para proibir música de protesto cujos versos incomodam a China

Glory To Hong Kong ficou popular nos protestos pró-democracia de 2019 e em diversos eventos foi executada no lugar do hino chinês

O governo de Hong Kong, território que oficialmente faz parte da China, ingressou com um pedido de liminar na Justiça para proibir a execução e a distribuição da música Glory To Hong Kong (Glória a Hong Kong, em tradução literal), que se tornou o hino extraoficial dos protestos pró-democracia de 2019. As informações são da agência Associated Press (AP).

A canção tem sido protagonista de uma série de gafes em grandes eventos, sobretudo esportivos, sendo tocada em vez do hino nacional chinês, “A Marcha dos Voluntários”. Composta por um artista local, a música fala em democracia e liberdade e incomoda o governo chinês, que a considera um estímulo à independência de Hong Kong.

Confronto entre a polícia de Hong Kong e manifestantes pró-democracia em Sheung Wan, julho de 2019 (Foto: CreativeCommons/Studio Incendo)

Um desses episódios ocorreu em novembro de 2022, em um torneio de rúgbi de sete na Coreia do Sul. Antes de as equipes masculinas se enfrentarem na final do Asian Rugby Seven Series, em Incheon, os organizadores executaram Glory To Hong Kong. O mesmo ocorreu no campeonato asiático de levantamento de peso, em Dubai, no início de dezembro.

Também no último mês de 2022, o governo de Hong Kong iniciou uma queda de braços com o Google para que a empresa de tecnologia alterasse seus resultados de buscas. Isso porque quem procura pelo hino nacional do território vê no primeiro resultado a canção popularizada nos protestos. Até hoje o algoritmo não foi alterado como deseja Beijing, que pede “A Marcha dos Voluntários” do topo das pesquisas.

Glory To Hong Kong não é oficialmente proibida no território semiautônomo. Porém, em 2020 o governo proibiu o slogan de protesto Liberate Hong Kong, revolution of our times (Liberte Hong Kong, revolução dos nossos tempos, em tradução literal). Como parte dele está na letra da canção, as autoridades têm usado essa brecha legal para punir quem toca a música.

Agora, o governo quer oficializar o veto. Para isso, pediu uma liminar judicial proibindo qualquer pessoa de “transmitir, executar, imprimir, publicar, vender, colocar à venda, distribuir, disseminar, exibir ou reproduzir de qualquer forma” a canção de protesto. A justiça primeiro decidirá sobre a liminar, depois julgará o caso.

“O pedido persegue o objetivo legítimo de salvaguardar a segurança nacional e é necessário, razoável, legítimo e consistente com a Declaração de Direitos”, diz comunicado divulgado pelas autoridades de Hong Kong.

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