Incêndio em acampamento rohingya deixa mais de quatro mil crianças sem abrigo

Fogo atingiu Cox's Bazar e destruiu completamente 800 abrigos em um dos 33 campos do maior assentamento de refugiados do mundo

Ao menos 4,2 mil crianças estão entre as cerca de sete mil pessoas que ficaram sem abrigo após um incêndio atingir no último domingo (7) o campo para refugiados de Cox’s Bazar, em Bangladesh. Quase 800 abrigos foram destruídos em um dos 33 assentamentos, segundo a ONG Save The Children.

“Os incêndios são uma lembrança trágica da deterioração das condições nos campos e da vulnerabilidade das famílias que vivem nos frágeis abrigos dos campos”, disse a entidade. “As milhares de crianças e suas famílias que ficaram desalojadas devido ao incêndio foram forçados a partilhar abrigos já apertados com familiares ou vizinhos.”

Este foi o primeiro incêndio de 2024 no campo, onde esse tipo de incidente é frequente. As crianças, que constituem cerca de 60% da população total de refugiados no país asiático, são as mais afetadas, de acordo com a ONG.

Crianças buscam pertences nos escombros de abrigos destruídos após incêndio de Cox’s Bazar, Bangladesh, em março de 2021 (Foto: Unicef Bangladesh/Mohsin)

“As crianças refugiadas rohingya nos dizem repetidamente que os incêndios são um dos seus maiores medos”, afirmou Shamin Jahan, diretora interina da ONG em Bangladesh. “Tragicamente, mais uma vez, milhares de crianças tiveram de suportar esta terrível realidade. Milhares perderam o pouco precioso que tinham.”

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), as causas do incêndio são desconhecidas, e as autoridades estatais de Bangladesh prometem realizar uma investigação para apurar o que houve. Não há informações sobre vítimas fatais.

Em seu site, a Save The Children tem uma página de doações. O dinheiro arrecadado é destinado às várias campanhas da ONG para ajudar crianças em todo o mundo.

Por que isso importa?

Os rohingyas compõem um grupo étnico muçulmano minoritário de Mianmar, no sudeste da Ásia. Embora vivam nos estados de Rahkine e Chin, no oeste do país, não têm direito à cidadania e são perseguidos pelas autoridades locais, com relatos de assassinatos, estupros e outros abusos.

Investigações indicam que os militares birmaneses foram responsáveis ​​por atrocidades que incluem mutilações, crucificações, queima e afogamento de crianças, numa ação deliberada de “limpeza étnica” hoje classificada globalmente como genocídio. Ativistas de direitos humanos pressionam há tempos por esforços internacionais para responsabilizar Mianmar por crimes contra a humanidade.

Diante desse cenário, cerca de um milhão de pessoas da minoria fugiram para Bangladesh desde 2017, sendo abrigados em precários campos para refugiados como o de Cox’s Bazar, o mais superlotado do mundo.

Outros 600 mil rohingyas continuam em Mianmar, vivendo sob as leis opressivas do governo militar que comanda o país. A perseguição é tão violenta que tornou-se habitual as pessoas lotarem embarcações rumo a Bangladesh, embora as condições que os esperam no destino sejam terríveis e o trajeto até lá seja extremamente perigoso.

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