Espião chinês usou LinkedIn para recrutar britânicos e obter segredos de Estado

Através de perfis falsos, agente oferecia dinheiro em troca de informações sobre forças armadas, tecnologia e outras questões

Um agente a serviço da inteligência da China usou a rede social LinkedIn para recrutar pessoas ligadas ao governo do Reino Unido e assim obter segredos de Estado. A denúncia foi feita pelo jornal The Times, segundo o qual a operação durou cinco anos e é a mais produtiva “de um Estado hostil que atua contra os interesses britânicos em uma geração.”

O espião criou uma série de perfis com nomes falsos, sendo o mais ativo o de Robin Zhang. Ele então recrutava britânicos em troca de grandes quantias em dinheiro e lucrativos contratos. A oferta chegava a oito mil libras esterlinas (R$ 49,2 mil) por cada entrega de informações.

LinkedIn: ferramenta de espionagem a favor da China (Foto: Souvik Banerjee/Unsplash)

Em alguns casos, os alvos eram convidados a visitar a China, onde então seriam chantageados sob a ameaça de que a traição seria exposta se não houvesse colaboração com a inteligência chinesa. Acredita-se que o indivíduo serve ao Ministério de Segurança de Estado de Beijing e atuou de dentro do território chinês.

“Zhang contatou autoridades que trabalham em áreas sensíveis, como militar, ciência e tecnologia e política, para tentar construir relacionamentos”, diz a reportagem, acrescentando que teria sido oferecida a um ex-oficial da inteligência militar uma “grande soma em dinheiro por informações sobre o trabalho antiterrorista do Reino Unido.”

A espionagem chinesa no Reino Unido

Em novembro de 2021, Richard Moore, chefe do Serviço Secreto de Inteligência britânico, o popular MI6, colocou a China como uma das quatro prioridades de segurança do Reino Unido, ao lado de RússiaIrã e do terrorismo islâmico. Ele se justificou com base no apoio chinês a “ações ousadas e decisivas”, espionando o Reino Unido e seus aliados e atuando para distorcer o discurso público.

À época, a embaixada chinesa em Londres emitiu um comunicado contestando a denúncia. “A China não tem necessidade nem interesse em coletar informações sobre a localização de veículos britânicos”, disse um porta-voz do órgão. “Somos firmemente contra os movimentos de algumas pessoas para estender deliberadamente o conceito de segurança nacional para desgastar as empresas chinesas”.

Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, fez avaliação semelhante à do colega em novembro do ano passado. Segundo ele, Beijing adota uma estratégia diferente da habitual e prefere “jogar o jogo longo”, manipulando a opinião pública através da mídias sociais e cooptando pessoas de interesse. Em muitos casos, os alvos são jovens políticos com pouca influência, mas com potencial para chegar ao parlamento no futuro.

No início de 2022, Christine Ching Kui Lee, uma advogada baseada em Londres, foi acusada de “estabelecer ligações” para o Partido Comunista Chinês (PCC) com parlamentares britânicos. Ela teria feito doações na casa dos US$ 275 mil a políticos, entre eles o deputado trabalhista Barry Gardiner, além de ter distribuído centenas de milhares de dólares a integrantes do partido.

“Se eles estão preparados para investir esta quantidade de paciência, esta quantidade de dinheiro, esta quantidade de esforço em cultivar volumes muito grandes de ativos potenciais em todo o nosso sistema, isso me parece um grande e duradouro desafio”, disse McCallum.

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