Israel pede à China solidariedade após Beijing não condenar ataques do Hamas

Diferente do Ocidente, governo chinês não classifica o grupo radical como terrorista, mas sim como uma organização de resistência

O Ministério das Relações Exteriores da China pediu no domingo (8) que todos os envolvidos mostrem calma e parem imediatamente os confrontos na Faixa de Gaza, iniciados no sábado (7) pelo grupo radical Hamas, que realizou um grande e surpreendente ataque contra israel.

A manifestação veio após uma cobrança israelense de que Beijing, que não rotula o Hamas como um grupo terrorista, mas sim uma organização de resistência, fosse mais veemente na sua posição em relação aos militantes islâmicos palestinos, conforme informou a rede Voice of America (VOA).

Segundo um porta-voz da pasta, Beijing está preocupada com a crescente violência e acredita que a solução para o conflito está na criação de um Estado independente para a Palestina, seguindo o modelo de dois Estados. Ele acrescentou que isso ajudaria a proteger os civis e evitar “uma situação ainda pior”. A China compartilha essa posição com a Rússia.

Prédio do Ministério das Relações Exteriores da China (Foto: Remko Tanis/Flickr)

Yuval Waks, um alto funcionário da embaixada israelense em Beijing, expressou no domingo (8) o desejo de que a China condenasse de forma mais firme as ações do Hamas. Conversando com repórteres, ele disse que, quando ocorrem assassinatos e massacres nas ruas, “não é o momento certo para discutir uma solução de dois Estados.”

A embaixada de Israel na China também pediu o apoio de Beijing, expressando a esperança de que o gigante asiático “mostre solidariedade e apoio durante este momento difícil”.

Nas últimas três décadas, as relações econômicas entre China e Israel cresceram significativamente desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1992. No entanto, diferenças políticas persistem. Esses contrastes envolvem questões relacionadas à Palestina, as conexões da China com rivais israelenses, como o Irã e as preocupações israelenses sobre a segurança no que diz respeito à transferência de tecnologia específica para Beijing.

De acordo com Dennis Wilder, professor assistente de estudos asiáticos na Universidade de Georgetown, em Washington, a China tem uma relação forte com Israel, baseada principalmente na disposição dos israelenses em transferir tecnologia, inclusive militar, para Beijing.

Ele relata que, embora haja robustos laços econômicos, há grandes discordâncias diplomáticas. “Por exemplo, a China mantém laços próximos com o Irã e sempre apoiou a causa palestina em busca do seu próprio Estado, o que a coloca em oposição política a muitas das políticas de Israel”, disse Wilder.

A China tem buscado manter boas relações tanto com Israel quanto com a Palestina. Por isso, é improvável que tome um lado claro, disse Bonnie Glaser, diretora do Programa Ásia do think tank German Marshall Fund of the United States, também sediado em Washington. Segundo ela, Beijing deseja ser vista como uma potência global, mas sua resposta fraca a ações terroristas “evidencia que muitas vezes não age dessa forma”.

O contra-almirante reformado Mark Montgomery, membro sênior da Fundação para a Defesa das Democracias, comentou que a China procura manter sua flexibilidade e pode até ter a esperança, mesmo que seja improvável, de mediar o debate entre Israel e Palestina, assim como fez com a Arábia Saudita e o Irã.

Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan expressou forte condenação no sábado por meio de um comunicado, referindo-se aos “ataques terroristas e violentos do Hamas” contra civis israelenses que resultaram “na perda de vidas inocentes”.

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