Irã rejeita conciliação e oferece ajuda aos palestinos para que vençam Israel pela ‘força’

Em meio à crescente violência na Cisjordânia, Teerã declarou que os palestinos poderiam alcançar seus objetivos na longa disputa territorial com Israel somente através do uso da força, e afirmou seu apoio caso solicitado

Através de sua missão na ONU (Organização das Nações Unidas), o Irã manifestou prontidão em auxiliar os palestinos a alcançarem o que chamou de “libertação do regime” de Israel em meio à escalada da violência na Cisjordânia, sugerindo a adoção de métodos que envolvem o uso da “força”. As informações são da revista Newsweek.

“Com base na avaliação do Irã, a negociação não é suficiente para que os palestinos reconquistem os direitos que lhes foram usurpados pelo regime israelense, já que este último apenas responde à força”, disse a missão à reportagem. “Portanto, o Irã oferece total apoio a qualquer solicitação de assistência proveniente da resistência palestina.”

A declaração vem na esteira da violência registrada no fim de semana. No domingo (3), as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) atacaram diversos bairros em Jenin, cidade que abriga um extenso campo de refugiados e tem sido palco de crescente tensão. Foram utilizados tanto ataques aéreos, com uso de drones, quanto terrestres.

Feito de concreto armado e com 700 km de comprimento e oito metros de altura, muralha de Israel foi apelidada pelos palestinos de “muro do Apartheid” (Foto: WikiCommons)

Segundo a última atualização do porta-voz das IDF, contra-almirante Daniel Hagari, oito palestinos foram mortos durante a operação, todos identificados como combatentes, e outros ficaram feridos. Ele informou aos repórteres na segunda-feira que a operação tinha como objetivo “desmantelar as atividades terroristas” no campo e visou a infraestrutura financeira e de armas utilizada para sustentar a atividade militante.

Segundo a agência de notícias palestina Shehab, as forças de ocupação lançaram bombas de gás no hospital de Jenin. Em resposta, palestinos lançaram explosivos improvisados contra veículos militares israelenses nas proximidades.

Em reação à agressão israelense, a Brigada Jenin, composta por membros de grupos de resistência palestinos na cidade ocupada da Cisjordânia, afirmou ter emboscado as forças de ocupação e detonado um veículo militar usando dispositivos explosivos.

Em resposta às questões levantadas pela Newsweek em relação ao Irã, rival histórico de Israel e que mantém laços com várias facções palestinas, Hagari afirmou que Teerã desempenha um papel de influência negativa, fornecendo diretamente combatentes palestinos.

Ele destacou que o Irã tem uma motivação significativa para promover atividades terroristas na Cisjordânia, visando seus próprios interesses. “O país busca enviar dinheiro e armas para a região”, disse.

Quanto aos grupos palestinos específicos, Hagari afirmou que a Jihad Islâmica recebe apoio total do Irã, enquanto o aumento de poder do Hamas é, em parte, resultado do financiamento iraniano.

Ao ser questionado sobre a posição do Hamas em relação aos confrontos em curso, um porta-voz do grupo reproduziu declarações de seus líderes na segunda-feira (3). O líder político Ismail Haniyeh instou o povo palestino na Cisjordânia a apoiar Jenin e proteger seus cidadãos, frustrando os planos do governo de ocupação.

Já o comandante das Brigadas Al-Qassam, Saleh al-Arouri, prometeu emboscar as forças israelenses caso tentassem invadir o campo e incentivou os combatentes a capturar soldados das IDF.

A Jihad Islâmica e sua ala militar, as Brigadas Al-Quds, também emitiram declarações na segunda-feira, alegando que seus combatentes e outras facções de resistência causaram danos ao pessoal e aos veículos e drones israelenses das IDF, além de terem ferido soldados.

Israel declara que o campo de refugiados de Jenin é utilizado como base operacional por diversos grupos militantes, incluindo as Brigadas Izz ad-Din Qassam, braço armado do Hamas, a Jihad Islâmica Palestina e a rede afiliada à Fatah, conhecida como Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa. São grupos fortemente armados e designados como organizações terroristas pela União Europeia (UE) e pelos Estados Unidos.

Irã fala em “terrorismo de Estado”

Na segunda-feira, o Irã condenou veementemente o que classificou como “violenta agressão militar israelense” em Jenin, rotulando-a como um exemplo de “terrorismo de Estado”. Segundo a rede iraniana Pars Today, o país afirmou que “essa agressão comprovou que a entidade usurpadora não pode ser detida em sua máquina de guerra”.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kan’ani, declarou: “O trágico incidente em Jenin, que envolveu ataques aéreos, terrestres e de mísseis em massa por parte do exército do regime sionista, é um ato criminoso e uma clara demonstração de terrorismo de Estado.”

Tensão crescente

Episódios do gênero não são novidade na tensa relação entre o Irã e Israel. A situação piorou desde que Teerã passou a intensificar seu programa nuclear após os EUA se retirarem do acordo atômico firmado com as potências ocidentais.

Israel é suspeita de lançar uma série de ataques ao Irã. Entre os alvos dessas ofensivas esteve a usina nuclear de Natanz, que sofreu uma explosão no setor de centrífugas há quase três anos. As centrífugas, usadas para enriquecer urânio, ficavam localizadas no subsolo da usina, de forma a ficarem protegidas contra ataques aéreos. Duas explosões ocorreram no local: a primeira em julho de 2020, a segunda em abril de 2021. Desde o primeiro momento o Irã acusa Israel pelo ocorrido, embora não haja qualquer comprovação oficial.

Outro caso espinhoso entre as nações rivais envolve a morte do cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh, pioneiro no programa nuclear de Teerã, assassinado em novembro de 2020. Em abril de 2018, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu chamou a atenção para a figura influente de Fakhrizadeh no policiamento estratégico do Irã.

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