Jornalista australiano relata intimidação e ameaças de detenção na China

O jornalista Matthew Carney, da australiana ABC, relatou tentativa de prisão de sua filha, de 14 anos, em Beijing

O jornalista da emissora australiana ABC, Matthew Carney, revelou uma rede de intimidação contra sua família instaurada pelo governo chinês. Em um artigo publicado pela emissora em 20 de setembro, Carney explicou os motivos de ter deixado a China em 2018.

As revelações vêm a público em meio à tensão entre Austrália e China. Canberra bloqueou a gigante de tecnologia chinesa Huawei na implantação da rede 5G no país e critica Beijing por suas tentativas de expansão territorial no Mar da China Meridional.

Carney publicou o artigo relatando perseguição depois que os colegas australianos Bill Birtles e Michael Smith também deixaram o país, por intermédio da embaixada da Austrália.

Jornalista australiano relata intimidação e ameaças de detenção na China
A última transmissão de Matthew Carney da China, em 2018 (Foto: Twitter/Matthew Carney)

O serviço de segurança de Beijing queria entrevistar os jornalistas sobre o caso Cheng Lei – uma âncora australiana detida desde agosto por supostos motivos de “segurança nacional”.

Meses de intimidação

Segundo o jornalista, a família sofreu três meses de intimidação até que conseguiram deixar a China. Em uma “conversa” de duas horas no Ministério das Relações Exteriores, Carney teve de explicar reportagens que escreveu sobre os campos de detenção de Xinjiang e a remoção de limites de mandatos de Xi Jinping.

“Fui acusado de ter infringido pessoalmente as leis chinesas e me disseram que eu estava sob investigação”, afirmou o australiano.

De acordo com Carney, ele e sua esposa foram instruídos a levar a filha de 14 anos ao Ministério da Segurança Pública da China para um interrogatório por uma suposta violação de visto.

“O interrogador nos disse: a sua filha tem 14 anos, ela é adulta sob as leis chinesas. Como a República Popular da China cumpre a lei, a acusaremos de crime de visto”, relatou o jornalista.

Na China, adolescentes a partir de 14 anos já respondem por responsabilidade penal. A maioridade penal só vem após os 18 anos. “Temos o direito de manter a sua filha em um local não revelado e devo informar que haverão outros adultos presentes”, teria dito o inspetor chinês, relatou Carney.

No último relatório da Associação de Correspondentes Estrangeiros na China, 17 jornalistas estrangeiros na China foram expulsos desde o início de 2020. O número de profissionais que deixou o país de forma voluntária, mesmo que sob coação, não foi contabilizado.

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