Jornalista chinês é acusado de espionagem por manter contato com estrangeiros

Dong Yuyu entrou na mira das autoridades da China por sua posição reformista, embora atuasse em um jornal do Partido Comunista

A família de um experiente jornalista chinês, que trabalha para um periódico ligado ao Partido Comunista Chinês (PCC), diz que ele está preso há mais de um ano e será julgado sob a acusação de espionagem. O crime: por conta da profissão, ele mantinha contato com colegas de imprensa e diplomatas estrangeiros. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Yuyu Dong trabalha no Guangming Daily e frequentemente se encontrava com jornalistas estrangeiros e membros de corpos diplomáticos de outros países que atuam na China. Por trás da acusação, porém, há uma antiga insatisfação de Beijing com o posicionamento progressista do profissional, que chegou a escrever colunas sugerindo mudanças no governo.

Entre 2006 e 2007, Yuyu chegou a estudar na prestigiada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde obteve uma bolsa de estudos. Em 2010, atuou como pesquisador visitante na Universidade de Hokkaido, no Japão, onde também deu aula em 2014.

Cidadão chinês lendo jornal: informações censuradas (Foto: wallpaperflare.com/Creative Commons)

Apesar do prestígio de que gozava na China e no exterior, entrou na mira do regime de Xi Jinping por seus textos considerados “antissocialistas”. Então, foi detido por agentes de segurança em fevereiro de 2022, quando almoçava com um grupo de estrangeiros em um hotel da capital chinesa.

Junto de Yuyu foi detido um diplomata japonês cuja presença à mesa foi usada como argumento para a acusação de espionagem. O jornalista está detido desde então, e somente no mês passado os familiares foram informados de que ele irá a julgamento. O crime de espionagem prevê pena de prisão de até dez anos na China.

O caso do chinês gerou uma manifestação do Clube Nacional de Imprensa, uma organização profissional e social de jornalistas sediada em Washington. “Pedimos ao governo chinês que liberte o veterano jornalista chinês Yuyu Dong, pois não foram apresentadas evidências que justifiquem o envio de seu caso a julgamento”, afirmou Eileen O’Reilly, presidente da entidade, em comunicado.

Segundo o Clube, casos como o do jornalista podem levar anos até que sejam efetivamente julgados. E “pessoas julgadas por espionagem na China quase sempre são condenadas, sendo a pena típica de dez anos”. O texto acrescenta que, durante o tempo de detenção, o jornalista não viu a família e somente uma vez teve autorização para encontrar pessoalmente com o próprio advogado.

“Por meio de seu trabalho, Yuyu ajudou o mundo a entender melhor a China e trouxe consigo do Japão e dos Estados Unidos uma compreensão da vida nesses países. Ele é um jornalista com grande histórico, e essas ações contra ele não encorajam percepções positivas da China. Pedimos ao governo que liberte Yuyu e retire as acusações contra ele”, disse O’Reilly.

Uma petição assinada por cerca de 60 pessoas, entre elas proeminentes jornalistas e acadêmicos, também pede a libertação do profissional. Os signatários alegam que reuniões com diplomatas e jornalistas estrangeiros fazem parte da rotina de um profissional de imprensa e não devem ser encaradas como evidência de espionagem.

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