ONU visitará região da China palco de denúncias de abusos dos direitos humanos

Chefe de Direitos Humanos da ONU será a primeira alta comissária a pisar no país para uma inspeção em 17 anos

A ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou na terça-feira (8) que recebeu autorização da China para uma visita com o objetivo de inspecionar o território autônomo de Xinjiang. Com o aval de Beijing, a chefe de direitos humanos da entidade, Michelle Bachelet, poderá ir à região após um longo período de negociações com o governo local. As informações são do jornal The New York Times.

A viagem está prevista para ocorrer em maio e tem contornos de evento histórico, vez que Bachelet será a primeira alta comissária das Nações Unidas em 17 anos a ir à China.

A chilena vem tentando há tempos entrar na província que faz fronteira com países da Ásia Central, no intuito de averiguar denúncias de genocídio contra o povo uigur. Tal questão é tida como um dos motivos do estremecimento das relações entre Beijing e o Ocidente.

Fazendeiros uigures da região de Xinjiang, na China (Foto: WikiCommons)

A jornada servirá para analisar de perto acusações de que o governo chinês usa tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos contra os uigures, realizando uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Na condição de principal autoridade de direitos humanos da ONU, que tem como missão “promover e proteger o gozo e a plena realização, por todas as pessoas, de todos os direitos humanos”, Bachelet já deu declarações contrárias a violações em diversos países, mas tem sido discreta ao falar da China.

Repressão estatal

Não é de hoje que o país asiático lida com críticas devido à repressão a dissidentes, jornalistas e ativistas. Porém, grupos de direitos humanos alegam que o cenário teve sensível piora desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder em 2012.

Além das suspeitas de crimes contra a humanidade no encarceramento em massa de uigures e outros muçulmanos em Xinjiang, o governo também é bastante questionado pela mão-de-ferro com que trata os assuntos relacionados a Hong Kong, território autogovernado que realizou protestos em massa por independência e democracia em 2019.

Antes de embarcar para a missão, Bachelet declarou na terça que seu gabinete irá adiantar o serviço, enviando uma equipe avançada para a China já no próximo mês para preparar terreno para sua visita.
A tarefa será a de organizar o itinerário e reuniões da alta comissária com líderes chineses, bem como alinhar garantias de que ela possa se encontrar com quem quiser, em condições que garantam confidencialidade e segurança aos envolvidos.

Ativistas e autoridades cobram relatório

Grupos de direitos humanos e governos se dizem frustrados com a recusa de Bachelet em divulgar um relatório preparado pelo gabinete sobre os abusos cometidos em Xinjiang. Um porta-voz anunciou em dezembro que o documento seria divulgado em semanas, mas continua indisponível e sem previsão de vir a público.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, um dos vários ministros das Relações Exteriores que pediram a publicação do relatório, declarou ao Conselho de Direitos Humanos na semana passada que a China é culpada de genocídio em Xinjiang. A Anistia Internacional e quase 200 outros grupos de direitos humanos divulgaram uma carta na terça-feira pedindo a Bachelet que divulgue o relatório o mais breve possível.

Por que isso importa?

A comunidade uigur habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

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