As forças de segurança da China têm realizado uma grande operação que inclui buscas em aparelhos celulares de uso pessoal. Os policiais realizam batidas e instam os cidadãos a entregar seus dispositivos, que são vasculhados à procura de aplicativos que permitem driblar a censura digital popularmente conhecida como Grande Firewall, segundo relato da rede Radio Free Asia (RFA).
Uma fonte ouvida pela reportagem, que se identificou apenas como Huang e vive na província de Sichuan, no sudoeste do país, diz que foi abordado no metrô, mas se recusou a entregar o celular argumentando que o policial não tinha autoridade legal para fazê-lo. Acabou liberado, mas diz que viu outros casos idênticos nos quais os cidadãos entregaram seus aparelhos, inclusive em Xangai e Beijing.
Outra testemunha confirmou a abordagem da polícia, dizendo que em alguns casos os cidadãos são levados para “tomar chá” com os agentes, expressão usada pelos chineses para se referir às ações nas quais o indivíduo é conduzido à delegacia para interrogatório.
A repressão digital na China, que sempre foi dura, tem se intensificado desde que explodiu no país, em 2022, o “Movimento do Livro Branco”. Foi assim simbolicamente chamado porque os manifestantes seguravam folhas de papel em branco durante os protestos, uma forma de denunciar a censura imposta pelo regime e os duros bloqueios da pandemia de Covid-19.
Segundo uma técnica especializada em celulares, as autoridades também criaram um aplicativo que é instalado nos aparelhos e detecta qualquer conteúdo proibido, o que dificulta a vida de quem pretende driblar o Grande Firewall. “Desde que seu telefone tenha o aplicativo antifraude instalado, eles saberão o que você está fazendo”, disse ela.
Com tal dispositivo, as autoridades sequer precisam acessar fisicamente o celular. Quando uma plataforma ou conteúdo irregular é detectado, o usuário simplesmente recebe um SMS alertando que o item viola a lei de segurança online chinesa.
Repressão digital
A ONG Freedom House, sediada em Washington, nos EUA, divulgou em outubro do ano passado a edição 2023 de seu ranking de liberdade na internet. Entre os 70 países analisados, a lista tem a China em último lugar, seguida de perto por Mianmar e Irã.
Recentemente, Beijing ampliou seus esforços para monitorar plataformas estrangeiras como Facebook, Telegram e X. Documentos vazados da empresa privada I-Soon, responsável por desenvolver ferramentas de vigilância e monitoramento de atividades nas redes sociais e associada à principal agência de polícia da China, revelaram ferramentas usadas para reprimir a dissidência online. Entre elas, uma para monitorar usuários do antigo Twitter.
O vazamento indica que hackers a serviço de Beijing e da I-Soon são capazes de invadir contas de e-mail, ocultar as atividades de outros agentes estatais na internet, difundir conteúdo do interesse do Partido Comunista Chinês (PCC), inutilizar redes de Wi-Fi e até invadir sistemas de governos estrangeiros, esta última uma acusação cada vez mais frequente.
O governo chinês tem entre seus alvos preferenciais indivíduos visados pelas autoridades e vistos como uma ameaça à segurança nacional. Cidadãos chineses provenientes de regiões onde Beijing identifica alto potencial de dissidência tendem a ser mais vigiados. O principal foco é Xinjiang, onde vivem os uigures, uma minoria étnica muçulmana perseguida pelo governo.