Na crise, China opta por ações já prometidas e ineficazes, dizem analistas

Medidas seriam parecidas às anunciadas em 2013, que não resolveram falhas estruturais na economia

Após a pandemia, a China perdeu a chance de reformar sua economia e optou por uma lista de promessas que já haviam sido anunciadas em 2013. O argumento é do ex-premiê australiano Kevin Rudd, hoje à frente do Asia Society Policy Institute, e o especialista Daniel Rosen, do Rhodium Group.

Em artigo de opinião no diário norte-americano “The Wall Street Journal“, os autores esquadrinham algumas das reformas propostas em maio pelo alto comando chinês.

As mudanças não serão suficientes se apenas ensejarem ações controladas pelo Estado, afirmam.

Na crise, China opta por ações já prometidas e ineficazes, dizem analistas
Bandeira da China (ao centro) hasteada na sede da ONU, em Nova York (Foto: UN Photo/Loey Felipe)

Entre as ideias estão separar gestão e estratégia de longo prazo de negócios nas empresas estatais. Também falou-se em aumentar o investimento estrangeiro, ao mesmo tempo em que se “melhora a qualidade” da destinação de recursos que saem do país.

Crescimento forçado

O argumento dos autores é o de que o modesto crescimento apresentado neste ano é distorcido. Isso porque essa alta foi puxada pelas estatais, cujo investimento subiu 2,1%, e não pelo setor privado – onde a queda foi de 7,3%.

Os estoques de produtos finalizados que chegavam as empresas privadas diminuíram de forma acentuada na primeira metade do ano, reflexo da forte recessão global. Nas estatais, a queda foi mais suave – demonstração do crescimento artificial e restrito a setores específicos, explicam os autores.

Para incentivar o consumo, a resposta do governo chinês foi conceder subsídios a setores da indústria, em vez de incentivar o lado da oferta.

Não foi suficiente, já que um estudo do UBS Evidence Lab com cerca de mil empresas observou que três em cada quatro consideravam realocar ao menos parte de sua produção para outros países.

Caminho instável

Já as soluções desenhadas para o sistema bancário são, na definição dos autores, “temporárias” e ineficazes. “[As alterações] ameaçam a estabilidade financeira de um sistema já superalavancado, apontando para mais moratórias e reestruturações no futuro”, afirma.

Na crise, China opta por ações já prometidas e ineficazes, dizem analistas
Presidente da China, Xi Jinping, em discurso na Assembleia Geral da ONU (Foto: Cia Pak/UN Photo)

As instituições financeiras receberam em junho o aviso de que teriam de abrir mão do equivalente a cerca de US$ 200 bilhões em lucros.

Dois meses depois, seis bancos foram obrigados a criar reservas para projetos de infraestrutura. Também terão de oferecer empréstimos de longo prazo e taxas de juros abaixo dos valores de mercado.

Outros países também se queixando das práticas de comércio chinesas no exterior, e sem precisarem de pressão de Washington. Nos meses iniciais da pandemia, a China manteve sua produção mesmo em meio ao impacto na demanda interna, que encolheu em todo o mundo.

O país aproveitou para impulsionar seu superávit comercial e conceder subsídios às suas empresas estatais no exterior, em locais como a UE (União Europeia). Esse estilo de capitalismo controlado pelo Estado gerou críticas em Bruxelas, já que configura concorrência desleal.

Os autores observam que, desde o início da era Xi Jinping, sobrou pouco das ideias vigentes desde a reabertura chinesa nos anos 1970. Entre elas, que reformas de mercado seriam suficientes para conduzir o país ao modelo liberal democrático.

Pelo contrário: “as normas econômicas da China divergem, em vez de convergir, com as do Ocidente”. Em vez disso, o país adota sua própria visão – ou a de Xi – de um “capitalismo de Estado onde o árbitro é uma autoridade política incontestável”.

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