Paquistão prende dezenas de pessoas envolvidas em atos de violência contra cristãos

Violência teria sido instigada por muçulmanos radicais que acusaram uma família cristã local de profanar o Alcorão

Ao menos 146 pessoas foram presas desde quarta-feira (16) no Paquistão por ligação com os atos de violência contra igrejas e residências em uma região majoritariamente cristã da cidade de Jaranwala, a cerca de 115 quilômetros (71 milhas) de Lahore, capital da província de Punjab. As informações são da agência Al Jazeera.

Ao anunciar as detenções, o inspetor-geral da polícia de Punjab, Usman Anwar, afirmou que as forças de segurança “continuam com as operações para deter outros envolvidos”.

A violência teria sido instigada por muçulmanos radicais que acusaram uma família cristã local de profanar o Alcorão. Páginas do livro sagrado do Islamismo teriam sido encontradas na região, supostamente com conteúdo blasfemo escrito nelas.

Violência no Paquistão ocorreu em região majoritariamente cristã (Foto: Twitter/Captura de tela)

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram por centenas de pessoas portando paus e pedras e atacando duas igrejas católicas da região. Um segundo grupo surge nas imagens coordenando ataques a residências, que têm as janelas quebrada e são depois queimadas.

Sobre os supostos atos blasfemos contra o Alcorão, o ministro da Informação de Punjab, Amir Mir, disse se tratar de uma “conspiração bem pensada para inflamar os sentimentos do público”, sem dar maiores detalhes sobre as investigações. Ele acrescentou que a segurança em igrejas da região foi reforçada.

Através do Twitter, o primeiro-ministro interino Anwaar ul Haq Kakar condenou os atos. “Estou arrasado com as imagens que chegam de Jaranwala. Medidas severas serão tomadas contra aqueles que violam a lei e visam as minorias. Todos os agentes da lei foram solicitados a prender os culpados e levá-los à justiça. Tenham certeza de que o governo do Paquistão está com nossos cidadãos em pé de igualdade”, disse ele.

Pena capital

No Paquistão, a blasfêmia, que envolve insultos percebidos ao Islã ou figuras islâmicas, pode resultar em pena de morte. Embora ninguém tenha sido executado por isso, há registros de linchamentos por multidões furiosas contra acusados.

Também há inúmeras pessoas detidas sob acusações de blasfêmia, com os julgamentos frequentemente postergados por medo de reações populares furiosas caso as punições pareçam brandas aos olhos da opinião pública. Organizações de direitos humanos afirmam que tais acusações são, às vezes, usadas para ajuste de contas pessoais.

Após o episódio desta semana, entidades e governos passaram a cobrar uma ação dura de Islamabad para evitar que a barbárie de repita. Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, concedeu uma coletiva para comentar o assunto.

“Estamos profundamente preocupados com o fato de igrejas e casas terem sido atacadas em resposta à profanação do Alcorão no Paquistão”, disse ele.

Rehab Mahamoor, pesquisador do Sul para a Ásia da ONG Anistia Internacional, pediu às autoridades que “assegurem urgentemente que a proteção da comunidade cristã minoritária em Jaranwala esteja de acordo com suas necessidades e desejos.”

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