Político que contesta laços com a China é destituído do cargo nas Ilhas Salomão

Daniel Suidani se opôs ao redirecionamento democrático para Beijing e vetou projetos chineses na província de Malaita

Daniel Suidani, um político que tem criticado duramente a relação cada vez mais próxima entre os governos das Ilhas Salomão e da China, foi destituído do cargo de primeiro-ministro da província de Malaita, na pequena nação insular. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

O premiê provincial deixou o cargo devido a uma moção de desconfiança baseada em acusações de que ele se apropriou indevidamente de verbas públicas. Antes da votação, apoiadores de Suidani fizeram um protesto pelas ruas de Auki, a capital regional, para defender a manutenção dele no cargo.

Agora, Malaita tem dois dias para definir seu novo primeiro-ministro, período no qual o policiamento será reforçado na província. “Quero garantir aos cidadãos da província que a presença policial de grande visibilidade estará em Auki até a eleição do novo primeiro-ministro”, disse Rollen Seleso, ministro do Governo Provincial e Fortalecimento Institucional.

Premiês das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (esq.), e da China, Li Keqiang (Foto: fmprc.gov.cn)

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e também ao movimento para estreitar laços com a China. O governo local evidenciou o bom relacionamento com os chineses há três anos, ao trocar a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Já em março de 2022 vazou uma carta de intenções indicando que o governo chinês planeja estabelecer uma base militar na nação insular, que assinou com a China um acordo de segurança que prevê, entre outras coisas, o envio de policiamento para ajudar as autoridades locais em caso de turbulência popular.

A aproximação os dois países é motivo de preocupação entre Washington e seus aliados, já que as Ilhas Salomão, um território estrategicamente crucial, estão no olho do furacão de uma disputa diplomática que coloca EUA, Austrália e outros parceiros no Indo-Pacífico de um lado e Beijing de outro.  

Suidani sempre pendeu para o lado ocidental e refutou a decisão de redirecionamento democrático para Beijing. Inclusive, vetou projetos financiados pela China em sua província, alegando que as propostas de ajuda feitas por Washington são mais interessantes.

Uma das medidas do premiê provincial foi recusar a instalação em Malaita de torres de telefonia móvel da chinesa Huawei, empresa alvo de desconfiança global devido à suposta proximidade com o Partido Comunista Chinês (PCC).

População insatisfeita

A relação comercial com a China é considerada predatória também por parte da população das Ilhas Salomão. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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