A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse no domingo (10) que a ilha “não se curvará” à China e continuará a defender sua democracia, frente à pressão de Beijing para retomar o controle sobre a ilha autogovernada. A declaração fez parte do discurso de celebração do Dia Nacional de Taiwan, em um evento realizado na região central de Taipé, segundo a agência catari Al Jazeera.
Tsai indicou que a solução do impasse entre Beijing e Taipé deve ser primordialmente democrática e que, por isso, não pretende “agir precipitadamente” diante da pressão imposta pelo governo da China. Porém, reforçou que “não deve haver absolutamente nenhuma ilusão de que o povo taiwanês se curvará à pressão”.
Na sequência, a presidente adotou um tom mais duro e prometeu “continuar a reforçar nossa defesa nacional e a demonstrar nossa determinação em nos defendermos para ”. E prosseguiu: “Isso ocorre porque o caminho traçado pela China não oferece um modo de vida livre e democrático para Taiwan, nem soberania para nossos 23 milhões de habitantes”.
A declaração da líder taiwanesa surge em meio ao aumento da tensão entre os dois governos. Na semana passada, a China fez a maior incursão já registrada no espaço aéreo de Taiwan, com o envio de 149 aeronaves militares. Foi um recado claro para que a ilha abandone as pretensões de independência formal, sob risco de uma ação militar de Beijing.
As palavras também servem como resposta direta ao presidente chinês Xi Jinping, que abordou a questão no sábado (9). “O separatismo pela independência de Taiwan é o maior obstáculo para alcançar a reunificação da pátria mãe e o perigo oculto mais sério para o rejuvenescimento nacional”, disse ele no aniversário da revolução que derrubou a última dinastia imperial em 1911.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.
Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, e agora habitualmente invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.
O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.
O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.
Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.