Principal general dos EUA vê Otan preparada, mas admite temer um conflito com a China

"Todos deveríamos estar preocupados", disse o general Charles Q. Brown Jr. sobre eventuais hostilidades entre as potências

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) está “mais forte que nunca” para uma eventual guerra com a China. Ainda assim, um conflito entre o Exército de Libertação Popular (ELP) chinês e as Forças Armadas dos EUA precisa ser evitado. É o que afirmou o general norte-americano Charles Q. Brown Jr., chefe do Estado-Maior Conjunto, em entrevista à rede Fox News.

Questionado sobre a possibilidade de os EUA intercederem a favor de Taiwan caso a ilha seja invadida por Beijing, o militar admitiu que “todos deveríamos estar preocupados se isso vai acontecer ou não.” E destacou a importância do poder de dissuasão das Forças Armadas dos EUA, explicando que o poderio militar do país é o que impede eventuais hostilidades estrangeiras, inclusive da China.

“Queremos estar tão preparados que não tenhamos um conflito”, disse Brown, elogiando as atuais condições militares dos EUA. “E, você sabe, enquanto estamos aqui, dizemos ‘paz através da força’. A força que demonstramos como militares trará essa paz.”

A China é atualmente o principal desafio militar dos EUA, e muito da tensão entre as duas potências tem relação com Taiwan, uma ilha autogovernada que Beijing considera parte de seu território.

General Charles Q. Brown Jr., chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (Foto: Flickr/thejointstaff)

Embora não mantenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar da ilha. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre Washington e Taipé, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitar a ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno do território vizinho, com tiros reais e testes de mísseis.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

Aumenta a apreensão norte-americana o fato de as Forças Armadas da China evoluírem em um ritmo sem precedentes, com a perspectiva de que deixem inclusive os EUA para trás. O ELP ostenta hoje a maior Marinha do mundo em numero de embarcações militares, e a Força Aérea chinesa também cresce rapidamente, sendo capaz de rivalizar com qualquer potência ocidental.

Já o Exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, mais que qualquer outra nação. De quebra, o país atingiu em maio de 2023 a marca de 500 ogivas nucleares em seu arsenal, bem acima de projeções anteriores. O objetivo é reduzir ao máximo a diferença em relação ao arsenal nuclear dos EUA, com a previsão de que o ELP tenha à disposição, até 2030, cerca de mil artefatos com capacidade nuclear.

O chefe do Estado-Maior admite o poder do rival, mas afirma que Washington atua para evitar uma desvantagem. “Bem, meu verdadeiro papel aqui, meu trabalho, é realmente garantir que no lado militar isso não ocorra, e é por isso que estou tão focado em acelerar a mudança”, disse Brown.

O fator Rússia

Ao analisar o poder militar dos EUA, Brown diz que é preciso considerar também o de seus aliados. E afirma que a Otan, aliança militar transatlântica encabeçada por Washington, vem igualmente se fortalecendo em um ritmo forte.

O militar citou como exemplo de sucesso o apoio à Ucrânia na guerra em curso contra a Rússia, com a eficiência da resistência ucraniana superando todas as expectativas desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022.

“O que vejo agora é que, se pensarmos no que [o presidente russo Vladimir Putin] tentou fazer desde o início, e no território que ganhou e no território que perdeu na Ucrânia, as coisas não correram de acordo com o seu plano”, analisou Brown. “Uma das principais razões pelas quais penso que, devido ao que aconteceu na Ucrânia, a Otan está mais forte do que nunca.”

A meta, diz ele, é seguir fortalecendo a aliança, a fim de impedir que a Rússia venha a agir contra um de seus membros. “Na verdade, [a Otan] é maior agora, com a Finlândia e a Suécia. E, por causa dessa força e no diálogo com muitos dos nossos parceiros da Otan, estamos todos empenhados em garantir que isto não se expanda para a Otan e se alargue.”

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