Produção de mísseis atingirá pico de entrega no próximo ano em Taiwan

Exército tem planos de atualizar progressivamente as unidades de defesa aérea e antinavio de olho em eventual conflito com Beijing

Em Taiwan, o Instituto Chungshan de Ciência e Tecnologia (CSIST, da sigla em inglês), de propriedade militar, está produzindo internamente mais de mil mísseis como parte do seu assim chamado “Plano de Melhoria de Poder de Combate Mar-Ar”. Fontes de defesa afirmaram que um plano de produção será ajustado de acordo com as necessidades do território semiautônomo, que vive um momento turbulento com Beijing. As informações são do jornal Taipei Times.

O plano recebeu um orçamento especial de NT$ 228,9 bilhões (dólares taiwaneses, o que dá US$ 7,4 bilhões) para o período de 2021 a 2026, com os fundos deste ano sendo os mais altos, no valor de 60,9 bilhões da moeda local.

De acordo com a fonte, os orçamentos para os próximos anos serão de NT$ 47,4 bilhões em 2024, NT$ 45,8 bilhões em 2025 e NT$ 28,3 bilhões em 2026, em comparação com os NT$ 46,3 bilhões do ano passado.

O lançador de mísseis anti-navio Hsiung Feng III (Foto: WikiCommons)

Essa alocação de recursos está prevista para resultar na maior entrega de mísseis no próximo ano, em resposta aos desenvolvimentos no Estreito de Taiwan. A fonte acrescentou que a produção de mísseis deste ano é estimada em cerca de mil unidades.

O plano abrangente de gastos inclui duas fases de mísseis móveis de defesa costeira, um sistema de defesa aérea, um sistema de veículo aéreo não tripulado, o sistema de mísseis ar-terra Wan Chien, o sistema de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Hsiung Feng II-E (HF-2E) e duas fases de embarcações navais de alto desempenho, além de sistemas de armas para embarcações da guarda costeira.

De acordo com o informante, a fabricação do sistema de mísseis ar-terra Wan Chien deve ser concluída no próximo ano, enquanto os sistemas de mísseis UAV e HF-2E estarão prontos em 2025.

Quando questionado sobre a possibilidade de um segundo pacote de compras ou aumento do orçamento anual de defesa para impulsionar a fabricação de armas, um alto funcionário, sob condição de anonimato, afirmou que o governo tomará a decisão mais apropriada com base em suas previsões sobre o desenvolvimento da situação no Estreito.

Em relação ao lançamento de mísseis marítimos e aéreos, o oficial afirmou que as forças militares irão ajustar gradualmente suas unidades de defesa aérea, antinavio e naval, ao mesmo tempo em que aposentarão os antigos sistemas de mísseis.

Segundo ele, países como Estados Unidos, Japão China estão observando atentamente o poder de combate das forças de mísseis de Taiwan. Também acrescentou que os resultados do plano de melhoria das forças militares serão revelados em breve.

Uma outra fonte próxima aos militares revelou no domingo (25) que o exército está realizando modificações nos drones de reconhecimento fabricados pelo CSIST, a fim de conferir ao equipamento capacidades de combate.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto de 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro do ano passado “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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