Guerra em Taiwan seria ‘devastadora’, alerta o secretário de Defesa dos EUA

Durante cúpula de segurança no fim de semana, Lloyd Austin alertou a China que um conflito com a ilha afetaria a economia global de forma "inimaginável"

De Taiwan, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, enfatizou no sábado (3) o apoio de Washington à democracia na ilha e alertou que uma guerra pelo controle do território semiautônomo seria “devastadora” e teria impactos significativos na economia global. Austin destacou que os efeitos do conflito seriam imprevisíveis, ultrapassando a “capacidade da imaginação”. As informações são da rede CNN.

“O conflito não é iminente nem inevitável. A dissuasão é forte hoje, e é nosso trabalho mantê-la assim”, disse Austin em comentários na cúpula de segurança Shangri-La Dialogue, diante de uma audiência composta por representantes de dezenas de países, incluindo a China. O evento reuniu mais de 600 líderes militares, formuladores de políticas e analistas de 40 nações.

Austin também ressaltou que a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são de interesse global, já que a segurança das rotas marítimas comerciais e das cadeias de abastecimento globais depende dessa estabilidade. Além disso, observou que a liberdade de navegação em todo o mundo também está em jogo.

“Não se engane: o conflito no Estreito de Taiwan seria devastador”, disse ele.

Secretário de Defesa Lloyd Austin, durante visita à Embaixada da França nos EUA (Foto: French Embassy in the U.S.)

Durante a sessão de perguntas e respostas após o discurso, o secretário Austin, acrescentou que um conflito no Estreito de Taiwan teria um impacto imprevisível na economia global.

Logo após o discurso de Austin no sábado, o tenente-general do exército chinês, Jing Jianfeng, declarou à emissora estatal chinesa CCTV que os comentários do secretário de Defesa dos EUA sobre Taiwan estavam “totalmente equivocados”.

Jing acusou Washington de buscar “consolidar a hegemonia e provocar conflitos”, afirmando que as ações de Washington estavam prejudicando a paz e a estabilidade regional.

Austin, fez suas declarações enquanto a Marinha dos EUA realizava uma passagem de rotina pelo Estreito de Taiwan, ação frequentemente considerada provocativa pela China.

A passagem de rotina da Marinha por lá revelou o potencial de erro de cálculo entre as partes envolvidas, devido às tensões persistentes em relação a Taiwan, às restrições impostas pelos EUA em relação aos chips avançados e ao apoio diplomático de Beijing ao presidente russo Vladimir Putin.

Os comentários feitos por Austin também surgiram em um momento em que a China rejeitou uma oferta do secretário de Defesa norte-americano para se reunir na cúpula em Cingapura, citando as sanções impostas pelos EUA a autoridades e empresas chinesas.

Em meio a essa atmosfera turbulenta, Austin abordou sábado a falta de comunicação, expressando profunda preocupação com a relutância do governo chinês em se envolver de forma mais séria em mecanismos para o gerenciamento de crises.

“Para líderes responsáveis, o momento certo para se expressar é a qualquer momento. O momento adequado para falar é sempre. E o momento certo para falar é agora”, afirmou Austin. “O diálogo não é um prêmio, é uma necessidade.”

Austin mencionou que ele e o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, trocaram sorrisos durante um banquete na noite de sexta-feira, porém, ele pediu a Beijing que faça mais.

“Um aperto de mãos amigável durante o jantar não substitui um compromisso sério”, ressaltou ele.

Parceria entre Beijing e Moscou é criticada

Durante um dos painéis finais no sábado, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, fez uma observação direta sobre a influência da China sobre a Rússia, dirigindo-se ao ex-embaixador chinês nos EUA, Cui Tiankai, que estava sentado ao seu lado.

Segundo relatou a rede Bloomberg, Reznikov expressou sua crença de que houve um novo entendimento entre Rússia e China após a visita do presidente Xi Jinping a Moscou no início deste ano, com Beijing assumindo o papel de “irmão mais velho” no relacionamento entre os dois países.

“Nas minhas considerações finais, gostaria que você transmitisse ao seu ‘irmão mais novo’ para que pare de matar os ucranianos”, afirmou Reznikov.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto de 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro do ano passado “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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