Resistência de Mianmar convoca levante popular e declara ‘guerra defensiva’ à junta

Duwa Lashi La, líder do movimento revolucionário, convocou um levante popular contra o governo militar encabeçado pelo general Min Aung Hlaing

O movimento de resistência em Mianmar, autodenominado Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), declarou uma “guerra defensiva” contra a junta que assumiu o comando do país no golpe de Estado de fevereiro deste ano. Duwa Lashi La, líder do movimento revolucionário, convocou um levante popular contra o governo militar encabeçado pelo general Min Aung Hlaing. As informações são do jornal britânico The Independent.

Lashi postou um vídeo (legendado em inglês) no Facebook, no qual convoca a população a atacar os militares em todo o país.

“O mundo inteiro sabe que os militares estão constantemente cometendo crimes de guerra desumanos”, disse ele. “Lancemos uma guerra defensiva popular contra a junta militar. Temos que iniciar uma revolta nacional em cada vila e cidade de todo o país ao mesmo tempo”.

A resistência estabeleceu grupos armados que chama de “forças de defesa do povo”. Porém, ação dessas milícias é apenas regional, com operações de ataque e fuga em pequena escala. A intenção de Lashi ao convocar o levante é integrar esses grupos e formar uma resistência nacional.

O líder revolucionário pediu aos funcionários públicos que abandonem seus cargos e convocou inclusive policiais e civis para que se juntem às forças rebeldes. Recomendou, ainda, que a população evite sair de casa, a não ser em casos de extrema necessidade.

O anúncio causou pânico entre a população civil, e muitas pessoas correram para os mercados a fim de estocar itens de primeira necessidade.

Duwa Lashi La, líder do movimento revolucionário Governo de Unidade Nacional de Mianmar (Foto: reprodução/Facebook)

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 900 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

Mais recentemente, o governo declarou guerra a médicos e demais trabalhadores da saúde. As forças de segurança têm prendido, agredido e até matado os profissionais da área, considerados inimigos da junta que governa o país.

“Os ataques ao sistema de saúde são encarados como uma arma de guerra da junta”, declarou um médico em fuga há meses, cujos colegas de clínica foram presos. “Acreditamos que tratar os pacientes, fazendo nosso trabalho humanitário, é um trabalho moral, não um crime”.

Os médicos entraram na mira da junta porque são respeitados pela população e extremamente bem organizados, com sindicatos e grupos profissionais atuantes. Desde o golpe eles formam uma forte oposição ao governo militar e, atualmente, são voz importante para denunciar e combater os abusos.

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