Uma imagem publicada na capa de uma revista digital aumentou a tensão entre muçulmanos e hindus na Índia. A Voice of Hind, que conta com o suporte do Estado Islâmico (EI), publicou em sua capa a foto de uma estátua do deus hindu Shiva decapitada, com uma bandeira do grupo extremista no lugar da cabeça. Abaixo, a frase “É hora de quebrar os falsos deuses”. As informações são do site indiano OpIndia.
Dinakar Keshav, do Partido Bharatiya Janata (BJP), sigla governista do primeiro-ministro Narendra Modi, usou sua conta no Facebook para manifestar indignação e cobrar uma ação do governo. Ele afirmou que a imagem se assemelha à do deus Shiva instalada no templo de Murudeshwara, em Karnataka.
“A proteção e o desenvolvimento dos templos hindus estão entre os princípios básicos do nosso partido”, disse ele, que solicitou segurança reforçada no templo sob o argumento de evitar vandalismo ou atos de violência. “Nosso departamento de defesa é forte e tem autoridade para agir contra essas ameaças”, disse o político.
No ano passado, a inteligência indiana abriu uma investigação para apurar a origem da revista e quem são seus financiadores. Inicialmente, acreditava-se que era originária do Afeganistão, mas posteriormente foi constatado que ela é produzida no sul da Caxemira, região disputada pela Índia e pelo Paquistão. Os criadores de conteúdo seriam cidadãos das Maldivas e de Bangladesh.
Segundo constatou o governo indiano, a publicação circula digitalmente através de uma rede complexa de páginas e identidades falsas e por meio de VPN (rede privada virtual, da sigla em inglês), o que permite mascarar a origem da conexão e dificulta a tarefa de rastrear os autores.
Por que isso importa?
A divisão entre muçulmanos e hindus é histórica na Índia. No país, os muçulmanos são vítimas de preconceito, preteridos em empregos e alvos de todo tipo de barreira para alcançar a independência econômica e social. O Hinduísmo é a religião de 80,5% da população do país, contra 13,4% do Islamismo e 2,3% do Cristianismo.
A polarização religiosa é reflexo de um conflito que dividiu em três a antiga colônia britânica no subcontinente indiano, ainda no final dos anos 1940. A Índia, de maioria hinduísta, está no centro, cercada no leste e no oeste por duas nações de fé islâmica, Bangladesh e Paquistão, respectivamente.
O extremismo muçulmano, por parte de grupos jihadistas em todo o mundo, só faz aumentar o preconceito contra os seguidores da fé islâmica na Índia.
Devido ao conflito religioso, diversos Estados da Índia estabeleceram, no final de 2020, leis que criminalizam o casamento entre pessoas de fés diferentes. A Lei Especial do Casamento exige um período de aviso prévio de 30 dias para casais inter-religiosos.
Alguns Estados sob o domínio do BJP tomaram medidas adicionais. Eles introduziram leis que proíbem a “conversão ilegal”, a fim de impedir que hindus mudem de religião para se casarem com pessoas de outras fés.
O choque entre as fés influenciou até no controle da pandemia. Quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 na Índia, uma teoria da conspiração se espalhou rapidamente. Era um processo de desinformação em massa chamado de “coronajihad”, que vinculava os muçulmanos ao até então desconhecido novo coronavírus.
A situação bastou para inflar a tensão entre muçulmanos e hindus em todo o território indiano. Não demorou muito para que islâmicos fossem espancados ou tivessem leitos hospitalares negados, enquanto trabalhadores da saúde eram rejeitados nos hospitais lotados e carentes de profissionais.