Centenas de soldados russos feridos na guerra da Ucrânia estão sendo tratados em hospitais da Coreia do Norte, revelou o embaixador da Rússia em Pyongyang, Aleksandr Matsegora. A declaração, concedida ao jornal estatal Rossiiskaya Gazeta e reproduzida pela rede Radio Free Europe (RFE), destaca o aprofundamento da parceria entre Vladimir Putin e Kim Jong-un, que envolve ainda o envio de tropas, armas e munições pelos norte-coreanos.
Matsegora não especificou o número exato de soldados hospitalizados nem detalhou a gravidade dos ferimentos ou o total de baixas, mas confirmou o envio deles ao país aliado. “Um claro exemplo da atitude fraternal [entre Moscou e Pyongyang] é a reabilitação de centenas de soldados feridos na [guerra da Ucrânia] em sanatórios e hospitais coreanos”, afirmou o diplomata.

A colaboração entre os dois países não se limita à assistência médica. Desde o início da guerra, a Rússia tem adquirido milhões de projéteis de artilharia da Coreia do Norte, segundo agências de inteligência ocidentais. Imagens de satélite mostram a reconstrução de pátios ferroviários, pontes e instalações portuárias ao longo da fronteira compartilhada no Pacífico, evidenciando o intenso tráfego logístico.
No final de 2023, soldados norte-coreanos foram vistos em campos de batalha na região de Kursk, fronteira russa invadida pela Ucrânia em agosto. Estimativas de autoridades ocidentais e ucranianas apontam que entre dez mil e 12 mil militares da Coreia do Norte foram destacados para a área, embora o número exato de prisioneiros capturados pelas forças ucranianas permaneça desconhecido.
Em novembro, Putin e Kim assinaram um tratado de parceria estratégica, consolidando ainda mais os laços políticos e econômicos entre Moscou e Pyongyang. Como parte desse acordo, a Rússia também fornece carvão, alimentos e suprimentos médicos para a Coreia do Norte.
Curiosamente, Matsegora mencionou que alguns filhos de soldados russos mortos na Ucrânia foram enviados para férias na Coreia do Norte, um gesto simbólico que reforça a narrativa de uma aliança “fraterna” entre os dois países.
Recentemente, as tropas norte-coreanas desapareceram das linhas de frente em Kursk, o que autoridades ucranianas atribuem a altas taxas de baixas. Não está claro se o contingente foi totalmente retirado ou apenas rotacionado para descanso e reabastecimento.
O conflito continua a cobrar um alto preço da Rússia. Uma investigação conjunta da BBC e do site MediaZona estima que entre 195 mil e 219 mil soldados russos tenham morrido desde o início da guerra. Desses, 91 mil foram identificados nominalmente por meio de redes sociais, relatos de familiares, documentos abertos e veículos de imprensa.