Rússia recorreu à China por apoio militar, diz um alto funcionário de Washington

Caso o suporte ao Kremlin ocorra, EUA diz que Beijing sofreria as mesmas sanções globais que atingem a economia russa

A Rússia solicitou equipamento militar à China para usar na invasão da Ucrânia, disse uma autoridade dos Estados Unidos. O pedido deixou o clima ainda mais carregado antes de altos funcionários de Washington e Beijing entrarem em uma reunião em Roma nesta segunda-feira (14), encontro que abordou as consequências do conflito para a segurança regional e global. As informações são da agência catari Al Jazeera.

Sob condição de anonimato, a autoridade norte-americana relatou que, nos últimos dias, o governo russo pediu à China que o apoiasse na invasão em larga escala ao país vizinho, inclusive com o fornecimento de equipamento militar. O informante não entrou em detalhes sobre o propósito do pedido, que foi noticiado pela primeira vez pelos jornais Financial Times e The Washington Post.

Sem fazer menção direta ao que saiu na imprensa dos EUA, a China, através do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, acusou Washington de espalhar “desinformação” sobre a postura do país em relação aos ataques em território ucraniano. “Intenções maliciosas”, definiu ele.

O presidente Xi Jinping recebe o líder russo Vladimir Putin em 2018 (Foto: WikiCommons)

O Kremlin igualmente rechaçou a alegação de que teria buscado suporte chinês. Segundo o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, “a Rússia não pediu ajuda à China e tem influência militar suficiente para cumprir todos os seus objetivos na Ucrânia”.

Já Einar Tangen, membro do Instituto Taihe, um think tank sediado na China, disse que Beijing não estava interessada em dar apoio militar. “A China disse claramente que se opõe ao Ocidente colocar mais armas e munições na Ucrânia, pois vê isso como adicionar petróleo ao fogo. Portanto, seria hipócrita se eles começassem a ajudar a Rússia”, explicou ele, acrescentando que Beijing tem pressionado Moscou para que encontre uma saída diplomática para a crise.

Antes de as negociações terem início em Roma nesta segunda, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, advertiu os chineses sobre possíveis repercussões caso o suporte ao Kremlin ocorra: eles sofreriam as mesmas sanções globais que atingem a economia russa. “Não vamos permitir que isso avance”, disse.

Saia justa

O conflito na ex-república soviética causou mal-estar no governo chinês, gerando desconforto com seus mais valiosos parceiros comerciais: Estados Unidos e União Europeia (UE). Ao mesmo tempo em que precisa de acesso a esses mercados, a China não soltou a mão de Moscou, juntando-se à Rússia para declarar uma amizade “sem limites”.

A China tem sido um dos poucos países a se mostrar contrário às sanções e evita criticar os russos por sua invasão da Ucrânia, inclusive controlando o que sai na mídia do país sobre a incursão em andamento. O controle estatal da informação que chega aos cidadãos chineses é parte do esforço local para difundir a ideia de que é um mediador no conflito, ao mesmo tempo em que preserva o discurso de que a Rússia tem o direito de defender seus interesses. 

Mesmo assim, permanecem dúvidas sobre até onde Beijing poderá ir para alienar o Ocidente e colocar sua própria economia em risco.

Em conversas que vem travando com o conselheiro sênior de política externa chinesa Yang Jiechi, Sullivan diz que procura limites no que os chineses estão dispostos a fazer por Moscou. “Não vou sentar aqui publicamente e brandir ameaças”, disse ele à rede norte-america CNN no domingo. “Mas o que vou dizer é que estamos comunicando direta e privadamente, e haverá consequências se a China ajudar a Rússia a preencher suas perdas com as sanções”.

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