Sumido desde 2018, executivo britânico está preso na China por espionagem

Ian J. Stones saiu repentinamente de circulação e somente agora o governo chinês confirmou que ele foi julgado e condenado

Bastante conhecido entre empresários e outros membros da comunidade de negócios da China, o executivo britânico Ian J. Stones estava longe dos olhares públicos desde 2018. Agora, enfim, surgiu uma explicação para o sumiço repentino: ele foi condenado a cinco anos de prisão por espionagem, pena que ainda cumpre em território chinês. As informações são do The Wall Street Journal.

Até então, nem autoridades dos dois países comentavam o caso, silêncio quebrado agora pelo Ministério das Relações Exteriores chinês. Segundo o órgão diplomático, Stones foi acusado de vender ilegalmente informações sensíveis a entidades estrangeiras, embora as circunstâncias envolvendo o caso não tenham sido melhor detalhadas.

Oficiais de polícia chineses em Beijing, abril de 2007 (Foto: WikiCommons)

Vivendo na China há cerca de 40 anos, Stones serviu a algumas das maiores multinacionais do mundo, como General Motors e Pfizer, até que estabeleceu há 15 anos uma consultoria no país asiático. A empresa, porém, teve seu registro cancelado em 2021.

Familiares dele se recusaram a comentar o caso de maneira aprofundada mesmo após a admissão do Ministério. E, segundo a reportagem, nem a embaixada do Reino Unido na China teve acesso aos documentos do processo.

A filha do acusado, Laura Stones, disse apenas que “não houve confissão do alegado crime.” E acrescentou: “Meu pai aceitou e respeita estoicamente que, segundo a lei chinesa, ele deve cumprir o restante da pena.” 

Rigidez contra a “espionagem”

O caso de Stones, revelado após anos de sigilo e silêncio por parte dos governos chinês e britânico, ocorre em meio ao aumento da repressão ao que Beijing classifica como espionagem estrangeira.

Em agosto de 2023, o Ministério da Segurança do Estado chinês chegou a divulgar uma mensagem convocando os cidadãos do país a se envolverem ativamente no trabalho de contraespionagem ao lado do governo. Criou, então, canais específicos para a população denunciar atividades suspeitas, assumindo parte de uma tarefa que é essencialmente do poder público.

O governo também expandiu, em abril do ano passado, a lei de contraespionagem, que fornece uma base legal para punir indivíduos e organizações que sejam considerados uma ameaça aos interesses chineses, entre eles jornalistas e empresários.

A nova legislação, que proíbe a transferência de informações relacionadas à segurança nacional e a interesses não especificados, gerou preocupação no Ocidente. Segundo o governo dos EUA, a proibição pode resultar em penalidades para empresas estrangeiras que operam na China, mesmo em suas atividades comerciais regulares.

Embora anterior à mudança no texto legal, o caso de Stones evidencia o risco que empresas estrangeiras e seus funcionários correm atualmente na China. O governo chinês, entretanto, diz que não há razão para alarmismo, acrescentando que o executivo britânico foi julgado em conformidade com a legislação local.

“Enquanto as empresas e os indivíduos relevantes aderirem às leis e regulamentos chineses, não haverá muito com que se preocupar”, declarou o Ministério das Relações Exteriores, acrescentando que o corpo diplomático do Reino Unido providenciou assistência jurídica a seu cidadãos e foi autorizado a assistir ao pronunciamento da sentença.

Washington e Londres não divulgam quantos de seus cidadãos estão atualmente presos na China. Porém, uma organização norte-americana que atua pela libertação de indivíduos detidos no país asiático diz que há cerca de 200 norte-americanos presos em território chinês a partir de acusações que a entidade classifica como “arbitrárias”.

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