Taiwan anunciou uma ampliação significativa de seu principal exercício militar anual, o Han Kuang, que neste ano mobilizará uma brigada de reserva inteira, composta por 2,4 mil a três mil soldados. A decisão ocorre em meio a um aumento da atividade militar chinesa na região, com relatos de que o número de aeronaves militares de Beijing entrando no espaço aéreo próximo à ilha dobrou desde a posse do presidente Lai Ching-te, em maio do ano passado. As informações são da Radio Free Asia.
De acordo com Su Tong-wei, vice-diretor da Divisão de Planejamento de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa Nacional de Taiwan, a ampliação do Han Kuang busca testar a capacidade de mobilização e resposta das brigadas de reserva recém-criadas nos 18 condados e cidades da ilha. Nos anos anteriores, o exercício contou com apenas algumas centenas de reservistas, tornando a mobilização deste ano um avanço significativo na estratégia de defesa de Taiwan.

Especialistas apontam que a nova abordagem impõe desafios logísticos e operacionais, exigindo planejamento cuidadoso e coordenação eficiente entre forças ativas e unidades de reserva. O major-general aposentado Arthur Kuo afirmou que a capacidade de uma brigada de reserva operar de forma independente, sem apoio externo, será um fator determinante para avaliar sua prontidão em um eventual conflito.
A imprensa local também informou que os exercícios de fogo real podem dobrar de duração, passando de cinco para dez dias, embora o Ministério da Defesa não tenha confirmado essa mudança.
Influência dos EUA e reforço da defesa
Há especulações de que a ampliação do exercício pode ter sido motivada por um pedido dos Estados Unidos, embora não haja confirmação oficial. Washington mantém uma política de “ambiguidade estratégica” em relação a Taiwan, reconhecendo Beijing, mas fornecendo apoio militar à ilha sob o Taiwan Relations Act, uma lei que regula as relações norte-americanas com Taiwan, garantindo apoio defensivo sem reconhecer sua independência.
Nos últimos anos, os EUA intensificaram a venda de armas, o treinamento militar e a cooperação estratégica com Taipé para fortalecer sua defesa diante da crescente ameaça chinesa.
Desde 2023, mais de 200 instrutores militares norte-americanos têm auxiliado no programa de treinamento de reservistas, que foi expandido para um período de 14 dias. O novo sistema de treinamento será totalmente implementado este ano, com a formação completa das brigadas de reserva nos diversos distritos de Taiwan.
O fortalecimento das forças de reserva é visto como um passo crucial para demonstrar a capacidade de resposta militar da ilha e sua determinação em se defender, ao mesmo tempo em que reforça laços com aliados estratégicos como os Estados Unidos.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.