Taiwan irá expandir exercício militar em resposta ao aumento da pressão chinesa

Nos anos anteriores, manobra contou com apenas algumas centenas de reservistas, mas agora terá milhares deles

Taiwan anunciou uma ampliação significativa de seu principal exercício militar anual, o Han Kuang, que neste ano mobilizará uma brigada de reserva inteira, composta por 2,4 mil a três mil soldados. A decisão ocorre em meio a um aumento da atividade militar chinesa na região, com relatos de que o número de aeronaves militares de Beijing entrando no espaço aéreo próximo à ilha dobrou desde a posse do presidente Lai Ching-te, em maio do ano passado. As informações são da Radio Free Asia.

De acordo com Su Tong-wei, vice-diretor da Divisão de Planejamento de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa Nacional de Taiwan, a ampliação do Han Kuang busca testar a capacidade de mobilização e resposta das brigadas de reserva recém-criadas nos 18 condados e cidades da ilha. Nos anos anteriores, o exercício contou com apenas algumas centenas de reservistas, tornando a mobilização deste ano um avanço significativo na estratégia de defesa de Taiwan.

LPD Yushan (LPD-1401) é um navio de transporte anfíbio da classe Yushan, pertencente à Marinha de Taiwan (Foto: WikiCommons)

Especialistas apontam que a nova abordagem impõe desafios logísticos e operacionais, exigindo planejamento cuidadoso e coordenação eficiente entre forças ativas e unidades de reserva. O major-general aposentado Arthur Kuo afirmou que a capacidade de uma brigada de reserva operar de forma independente, sem apoio externo, será um fator determinante para avaliar sua prontidão em um eventual conflito.

A imprensa local também informou que os exercícios de fogo real podem dobrar de duração, passando de cinco para dez dias, embora o Ministério da Defesa não tenha confirmado essa mudança.

Influência dos EUA e reforço da defesa

Há especulações de que a ampliação do exercício pode ter sido motivada por um pedido dos Estados Unidos, embora não haja confirmação oficial. Washington mantém uma política de “ambiguidade estratégica” em relação a Taiwan, reconhecendo Beijing, mas fornecendo apoio militar à ilha sob o Taiwan Relations Act, uma lei que regula as relações norte-americanas com Taiwan, garantindo apoio defensivo sem reconhecer sua independência.

Nos últimos anos, os EUA intensificaram a venda de armas, o treinamento militar e a cooperação estratégica com Taipé para fortalecer sua defesa diante da crescente ameaça chinesa.

Desde 2023, mais de 200 instrutores militares norte-americanos têm auxiliado no programa de treinamento de reservistas, que foi expandido para um período de 14 dias. O novo sistema de treinamento será totalmente implementado este ano, com a formação completa das brigadas de reserva nos diversos distritos de Taiwan.

O fortalecimento das forças de reserva é visto como um passo crucial para demonstrar a capacidade de resposta militar da ilha e sua determinação em se defender, ao mesmo tempo em que reforça laços com aliados estratégicos como os Estados Unidos.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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