Taleban do Paquistão reivindica ataque a bomba que matou oito pessoas

Alvo do ataque era o ex-comandante de uma antiga milícia armada aliada a Islamabad e supostamente responsável pela morte de extremistas

Oito pessoas morreram em um atentado a bomba ocorrido na terça-feira (13) e reivindicado no dia seguinte pelo Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. Um explosivo posicionado em uma rodovia no noroeste paquistanês causou as mortes, de acordo com a rede Gandhara.

Uma das vítimas é o ex-comandante de uma antiga milícia aliada ao governo paquistanês. Durante anos, Islamabad incentivou civis a formarem grupos armados para atuar em defesa de suas vilas. Com o passar do tempo, porém, a segurança no país melhorou, e essas milícias foram desfeitas.

Zahid Nawaz Marwat, chefe de polícia da região onde ocorreram as mortes, identificou o ex-comandante como Idrees Khan. Segundo a autoridade, a explosão inicial atingiu um veículo e matou cinco pessoas.

Além de Khan, morreram em um primeiro momento dois policiais e dois agentes de segurança privados. Os outros três corpos foram encontrados posteriormente e acredita-se que sejam de civis que passavam pelo local na hora da explosão.

De acordo com o TTP, Khan era o alvo da bomba, pois teria matado membros da facção extremista no passado. O grupo também assumiu a autoria de um ataque que matou, no mesmo dia, três soldados das forças armadas paquistanesas no distrito de Kurram, perto da fronteira com o Afeganistão.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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