União Europeia alerta para a expansão da indústria do carvão na China

Temperaturas sufocantes aumentam a demanda por energia e geram o risco de novos apagões, uma combinação perigosa para o meio ambiente

A expansão da indústria do carvão na China gerou nesta semana um alerta da União Europeia (UE), conforme o país asiático atravessa uma onda de calor sem precedentes que tende a aumentar o consumo de energia elétrica pelos cidadãos. As informações são da agência Associated Press (AP).

Frans Timmermans, que chefia o departamento de questões climáticas do bloco europeu, manifestou sua preocupação durante conferência em Beijing, na segunda-feira (2).

Ele destacou que a China é atualmente líder global em energia verde, com a meta de que um terço de suas fontes de energia seja limpa até 2025. Paralelamente, tem construído cada vez mais usinas movidas a carvão, preocupada com a possibilidade de novos apagões como os que afetaram o país em 2021.

Mina de carvão: questão ambiental conflita com a crise energética na China (Foto: Albert Hyseni/Unsplash)

“Isso parece ser uma contradição e é uma contradição”, disse Timmermans. “Mas, ao mesmo tempo, entendo a ansiedade causada por possíveis apagões.”

Conforme avaliação do governo chinês, a capacidade nacional de produção de carvão aumentou em 300 milhões de toneladas no ano passado, ao menos o terceiro ano consecutivo de alta. Reflexo também da guerra da Ucrânia, que gerou dificuldade para o país importar não apenas carvão, mas também petróleo, sendo a Rússia uma importante fonte de ambos.

Outra questão que levou Beijing a aumentar sua própria produção é a crise diplomática com a Austrália, de quem igualmente os chineses exportam grandes quantidades da fonte energética. O comércio de carvão entre os dois países chegou a ser interrompido em 2020, no auge dos problemas de relacionamento entre os vizinhos, mas já foi retomado.

É o histórico recente do setor energético chinês, entretanto, que melhor justifica o aumento da produção de carvão e da construção de novas indústrias na China. Atualmente, o país é o maior produtor e maior consumidor de carvão do mundo, bem como a nação que mais emite gases causadores do efeito estufa.

Em setembro de 2021, uma série de apagões aconteceu sobretudo no nordeste do país, com ao menos dez províncias forçadas a aderir a um programa de racionamento. Na ocasião, o jornal estatal Global Times levantou a hipótese de uma “lacuna doméstica potencialmente grande no fornecimento”, capaz de eventualmente levar a uma “crise de energia”.

Durante o racionamento, indústrias foram obrigadas a interromper a produção, impactando em uma economia que nos últimos anos não mostra o mesmo crescimento vertiginoso dos últimos anos. E o problema pode se repetir em 2023, com recordes de temperatura registrados no país e a consequente tendência de que o consumo de energia pela população aumente drasticamente.

A situação é ainda mais delicada porque a escassez de água reduziu a produção energética chinesa, mais um fator que contribui para aumentar a importância das indústrias a carvão.

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