Vietnã proíbe filme ‘Barbie’ por favorecer Beijing em disputa no Mar da China Meridional

Hanói diz que várias cenas da produção exibem mapa com a “linha de nove traços”, que estabelece as reivindicações chinesas na área

O governo do Vietnã anunciou na segunda-feira (3), através da mídia estatal, que vai proibir no país a exibição do filme Barbie, que será lançado no Brasil no dia 20 de julho. A censura está relacionada à disputa territorial com Beijing no Mar da China Meridional, segundo informa a rede Deutsche Welle (DW).

O Vietnã argumenta que em diversas cenas da produção é exibido um mapa do Mar da China Meridional com a “linha de nove traços”, demarcação que estabelece a área reivindicada pela China na região.

“O conselho de revisão assistiu ao filme e tomou a decisão de proibir a exibição dele no Vietnã devido a uma violação referente à ‘linha de nove traços'”, disse o diretor do Departamento de Cinema do Vietnã, Vi Kien Thanh. 

Embarcação chinesa no Mar da China Meridional (Foto: Wikimedia Commons)
Tensão crescente

A censura surge em momento de tensão crescente entre China e Vietnã, conforme aumenta a quantidade de navios chineses na zona econômica exclusiva (ZEE) vietnamita na disputada via navegável. Hanói alega que a atuação provocativa dessas embarcações prejudica as operações vietnamitas de gás e petróleo.

O mais recente incidente, no dia 10 de junho, envolveu uma patrulha chinesa que fazia a escolta de um luxuoso navio de passageiros. “Eles passaram cerca de 30 horas na ZEE do Vietnã, principalmente dentro e entre as operações de petróleo e gás”, disse Ray Powell, que lidera o Projeto Myoushu sobre o Mar da China Meridional na Universidade de Stanford, nos EUA.

Nos dias que antecederam a visita dos dois navios, outros casos já haviam sido registrados. Um deles, em 8 de junho, com o maior navio da guarda costeira chinesa, o 5901. Outro, mais longo, durou entre 7 de maio e 4 de junho, quando uma suposta embarcação de pesquisa da China passou quase um mês na região, em determinados momentos escoltada por até 12 barcos da guarda costeira.

Os casos recentes levaram Hanói a se manifestar, algo incomum mesmo diante do crescente assédio chinês. No dia 18 de maio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores vietnamita, Pham Thu Hang, instou a China a retirar o navio de pesquisa, os barcos da guarda costeira e os pesqueiros e “respeitar a soberania e os direitos jurisdicionais do Vietnã.”

Outro problema é a pesca excessiva de navios chineses, que inclusive invadem a ZEE vietnamita. Além disso, Beijing constantemente é acusada de assediar embarcações provenientes do Vietnã e também de outros países, sobretudo durante o período em que vigora uma contestada moratória de pesca imposta pela China.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

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