Washington debate sanções a empresas chinesas que contribuem para a guerra da Rússia

Legisladores passaram a considerar a punição após medidas semelhantes propostas pela União Europeia na semana passada

Os Estados Unidos estão pensando em impor sanções a empresas chinesas que, segundo membros do Congresso, estariam ajudando a Rússia em sua guerra na Ucrânia. A situação marca a primeira vez que Beijing é diretamente responsabilizada desde o início do conflito, que na quinta-feira (22) completará dois anos.

O deputado Gerald Connolly, democrata da Virginia, disse que os legisladores estão considerando esses planos após medidas semelhantes propostas pela União Europeia (UE) na semana passada, segundo informações da rede CNBC.

As medidas representariam as primeiras sanções diretas contra a China, apesar das suspeitas ocidentais sobre seu apoio às operações militares russas. Em entrevista à CNBC, Connolly afirmou que a China deve entender que “as mesmas sanções que afetam a Rússia podem ser aplicadas a ela”, podendo afetar economia e qualidade de vida dos chineses. E acrescentou que Beijing “tem muito mais a perder” do que Moscou.

As sanções dos EUA podem afetar a economia chinesa, que já enfrenta dificuldades devido à recuperação lenta da Covid-19 e crise no setor imobiliário. No entanto, isso também pode prejudicar Washington devido à interdependência comercial entre os países. Apesar disso, o congressista afirmou que as penalidades podem ser aplicadas em breve, mesmo considerando os possíveis impactos.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, em 2019 (Foto: www.kremlin.ru)

O senador Ben Cardin, também dos Democratas, afirmou que o Congresso está discutindo com o governo Biden a possibilidade de impor sanções semelhantes às propostas pela UE contra a China. Segundo ele, isso ocorre no contexto da análise de como aplicar as sanções contra a Rússia, e deve exigir uma “maior cooperação de outros países”.

Em meio a relatos de que a China está apoiando a economia de guerra da Rússia, a União Europeia está se preparando para impor sanções a empresas chinesas acusadas de ajudar Moscou a contornar as penalidades ocidentais, conforme noticiou a CNBC semana passada. Essas medidas fazem parte de um novo pacote de sanções em resposta à invasão à Ucrânia. Os planos ganharam caráter de urgência após a morte de Alexei Navalny, líder da oposição russa.

Beijing, por sua vez, insiste em negar que forneça armas a Moscou. Entretanto, têm se acumulado os indícios de que empresas chinesas entregam aos russos principalmente tecnologia de uso duplo.

Em 2022, por exemplo, a China vendeu mais de US$ 500 milhões em semicondutores para a Rússia, em comparação com os US$ 200 milhões de 2021, segundo dados divulgados no final de setembro pela rede CNBC.

As autoridades chinesas não se pronunciaram sobre o caso.

Os impactos das sanções

Atualmente, a Rússia é alvo de 18.772 sanções, a grande maioria delas posterior à invasão da Ucrânia. As demais 2.695 foram impostas antes do início da guerra atual, embora tenham motivação semelhante: elas estão atreladas ao apoio de Moscou aos separatistas da região de Donbass e à anexação da Crimeia, duas regiões igualmente ucranianas.

Os EUA, por sinal, são os principais responsáveis por punir a economia russa, com 4.502 sanções impostas desde 2014. Em segundo lugar aparece o Canadá, com SuíçaReino UnidoUnião Europeia (UE), FrançaAustrália e Japão na sequência. Já os principais alvos são indivíduos russos, que respondem por 11.462 casos desde fevereiro de 2022. Na sequência aparecem entidades, embarcações e aeronaves.

O objetivo central das sanções é punir a economia russa a ponto de comprometer o financiamento de sua máquina de guerra. De acordo com a revista Time, Moscou perdeu acesso a US$ 300 bilhões de suas reservas cambiais, viu o rublo perder quase um quarto de seu valor frente ao dólar e teve sua base industrial paralisada.

As sanções ocidentais impedem a Rússia de comprar não apenas armas e munição para uso na guerra da Ucrânia, mas também itens de uso duplo, aqueles que podem ter funções inclusive militares. Para driblar tal barreira, Moscou tem utilizado o popular site de compras AliExpress, da China, onde adquire itens que têm sido usados para montar veículos aéreos improvisados.

Devido à relevância dos drones, protagonistas da guerra, o Ocidente impôs inúmeras sanções a empresas acusadas de equipar as forças de Moscou. No final de setembro, Washington inseriu em sua lista de restrições comerciais 11 companhias chinesas e cinco russas, segundo a agência Reuters. Também foram punidas entidades de TurquiaAlemanha e Finlândia.

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