Comércio chinês é crucial para sustentar a economia e os esforços de guerra da Rússia

Beijing representa cerca de metade das importações de Moscou, um aumento significativo em relação ao período pré-guerra

Uma análise recente feita pela rede CNBC detalhou como empresas chinesas têm desempenhado um papel crucial na sustentação da deteriorada economia russa e também no incremento das capacidades militares de Moscou, driblando assim as sanções ocidentais impostas devido à guerra da Ucrânia. Isso se concretiza principalmente por meio do comércio de equipamentos direcionados ao campo de batalhas.

Dados aduaneiros russos, divulgados em agosto de 2023, indicam uma contínua importação de drones, capacetes, coletes e rádios da China pela Rússia. Essa importação não apenas fornece um suporte vital para o conflito liderado pelo presidente Vladimir Putin, que já dura mais de 18 meses, mas também se revela uma fonte lucrativa para as empresas chinesas envolvidas nesse balcão de negócios.

Analistas ouvidos pela reportagem destacaram ainda a crescente presença na Rússia de exportações chinesas menos rastreáveis, aparentemente destinadas a usos civis, como veículos, equipamentos de construção e materiais sintéticos. Surpreendentemente, esses produtos estão desempenhando um papel significativo no apoio tanto direto quanto indireto às operações de guerra.

Lado a lado: o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping (Foto: WikiCommons)

Mark Cancian, conselheiro sênior do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, observou que “não há dúvida de que as autoridades chinesas estão cientes desses fluxos comerciais”, dada a sua magnitude. Ele também ressaltou que tais operações não poderiam continuar sem a aprovação do governo chinês.

Apesar de Beijing afirmar que seu comércio com Moscou é apenas “cooperação econômica normal” e não tem como meta prejudicar outros países, referência à Ucrânia, a China continua a parceria comercial em meio à guerra. Isso foi confirmado pelo ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, na semana passada, antes de uma reunião planejada para outubro entre Putin e seu homólogo chinês Xi Jinping.

Essas declarações surgem após a divulgação, em julho, de um relatório de inteligência dos EUA que apontava a China como um importante apoio para a Rússia em seus esforços de guerra. O documento indicava o fornecimento de tecnologia crucial e equipamentos de dupla função, que têm aplicações tanto civis quanto militares, em uso na Ucrânia.

Alguns exemplos desses bens incluem equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e componentes para jatos de combate.

Kiev relatou que suas forças estão descobrindo cada vez mais peças de origem chinesa em armamentos usados pelas forças militares russas desde abril de 2023. Foi naquele mês que Putin e Li Shangfu, que na época era o ministro da Defesa chinês, reafirmaram a “parceria sem limites” entre seus países.

Tecnologia de uso duplo

O comércio entre os países “aliados incondicionais” atingiu um recorde em 2022, chegando a US$ 190 bilhões, um aumento de 30% em relação a 2021. Neste ano, os números estão a caminho de superar esse recorde, com um total de US$ 134 bilhões nos primeiros sete meses de 2023.

A China agora representa cerca de metade (de 45% a 50%) das importações da Rússia, um aumento significativo em relação ao período anterior à guerra. Isso inclui o comércio de itens e tecnologias de uso duplo, como drones e microchips.

Em 2022, a China vendeu mais de US$ 500 milhões em semicondutores para a Rússia, em comparação com os US$ 200 milhões de 2021. Além disso, até março de 2023, os chineses venderam mais de US$ 12 milhões em drones para equipar as forças do Kremlin.

Arsenal

O analista de defesa Cancian destacou que os itens chinesas desempenham um papel crucial nas capacidades militares russas. “A Rússia vem disparando artilharia a uma taxa de 10 mil a 20 mil tiros por dia. Para sustentar esse nível de atividade, eles precisam de apoio externo”, explicou.

Além disso, Cancian observou que a Rússia estava quase sem mísseis de cruzeiro e, para suprir essa carência, começou a fabricar mísseis adicionais com componentes fornecidos pela China.

Os registros também mostraram que capacetes e coletes foram adquiridos em grandes quantidades, cerca de 100 mil de cada, em novembro de 2022, provenientes da empresa Deekon Industry Co., sediada em Xangai, que é uma fabricante de produtos militares e equipamentos policiais. A aquisição foi realizada pela empresa Legittelecom, com sede em Moscou.

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