O presidente da Coreia do Sul Yoon Suk-yeol enfrenta intensas críticas e manifestações populares e não tem o futuro político assegurado mesmo após o fracasso do parlamento local em aprovar seu impeachment no último sábado (7). A tentativa, liderada pela oposição, buscava responsabilizá-lo pela controversa declaração de lei marcial na semana passada. As informações são da rede Voice of America (VOA).
Apesar de controlarem a maioria no parlamento, os partidos de oposição não conseguiram apoio suficiente dos conservadores do partido governista, o Poder do Povo (PPP), para atingir o quórum necessário. A votação foi boicotada pelos conservadores, que abandonaram o plenário antes do início da sessão.
Fora do parlamento, cerca de cem mil pessoas protestaram em apoio ao impeachment, em um ato que mesclava indignação e espírito festivo, com velas e canções populares. “O povo continuará exigindo que o presidente, o instigador dessa rebelião, enfrente processos ou prisão”, afirmou Kim Min-seok, líder do Partido Democrata, segundo quem a insatisfação pública só tende a crescer.
O impeachment deve ser novamente colocado em pauta já nesta semana, segundo líderes oposicionistas. Enquanto isso, grupos de ativistas e sindicatos prometem manter as manifestações e greves até que Yoon renuncie. A situação lembra os protestos que levaram à destituição da ex-presidente Park Geun-hye em 2016, gerando temor de mais instabilidade política entre os conservadores.
As autoridades sul-coreanas ainda impuseram uma proibição de viagem ao presidente, de acordo com a rede BBC. O PPP ainda anunciou que Yoon não participará de assuntos de Estado até sua renúncia antecipada, delegando funções ao primeiro-ministro Han Duck-soo, medida que a oposição considera inconstitucional.
Lei marcial
A crise foi desencadeada pela declaração de lei marcial por Yoon, que justificou a medida como necessária para “proteger a ordem constitucional”. O decreto foi anulado horas depois pelo parlamento. No sábado, o presidente pediu desculpas pelo que chamou de “ansiedade pública” e garantiu que não repetiria a decisão.
Embora Yoon tenha proposto uma governança compartilhada entre o governo e seu partido, especialistas questionam a viabilidade dessa solução. “Não há um processo político estabelecido para que o presidente transfira poderes ao partido”, explicou um professor de direito de Seul, que preferiu não se identificar. A oposição rejeitou a ideia, acusando Yoon de tentar ganhar tempo.
A insatisfação pública, somada à resistência dos opositores, coloca o futuro político do presidente em xeque. “Yoon está tentando de tudo para se manter no poder, mas isso parece totalmente desconectado da revolta popular que vemos agora”, avaliou Hans Schattle, professor de ciência política da Universidade Yonsei.