Alemanha avalia em até 90% chance de coronavírus ter escapado de laboratório chinês

Relatório secreto indica violação de segurança e testes com vírus modificados no Instituto de Virologia de Wuhan

Uma análise confidencial feita em 2020 pela agência de inteligência alemã BND, que só agora veio à tona, indica entre 80% e 90% a chance de o coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19, ter escapado acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan, na China. A revelação foi publicada pelos jornais alemães Die Zeit e Sueddeutscher Zeitung, com informações reproduzidas pela agência Reuters.

Segundo as publicações, o relatório da inteligência alemã aponta que o instituto chinês realizava experimentos nos quais vírus são geneticamente modificados para se tornarem mais transmissíveis aos humanos, supostamente com propósitos científicos. Além disso, o documento menciona evidências de múltiplas violações das normas de segurança no laboratório.

A investigação da agência alemã recebeu o codinome “Saaremaa” e combinou informações obtidas em operações sigilosas com dados disponíveis publicamente. Encomendado ainda durante o mandato da então chanceler Angela Merkel, o relatório nunca foi tornado público oficialmente, mas teria sido compartilhado com a CIA (Agência Central de Inteligência), dos EUA, no final de 2024.

Instituto de Virologia de Wuhan, hipotético marco-zero da pandemia (Foto: Wikimedia Commons)

Procurados pela imprensa, tanto o atual chanceler Olaf Scholz quanto a BND se recusaram a comentar as informações reveladas. Em janeiro deste ano, a CIA também declarou que considera o vazamento do vírus de um laboratório mais provável do que a origem natural, mas ressaltou ter “baixa confiança” na conclusão, já que ambas as hipóteses permanecem plausíveis.

Por outro lado, Beijing mantém firme sua posição de negar a teoria. O Ministério das Relações Exteriores da China declarou recentemente que o Instituto de Virologia de Wuhan “nunca realizou pesquisas de ganho de função com coronavírus e não esteve envolvido na criação ou vazamento do vírus causador da Covid-19”.

Versões divergentes

Embora as agências de inteligência indiquem como elevada a probabilidade de responsabilidade do laboratório, no meio científico há discordância sobre se o vírus saltou de animais para humanos em um mercado da cidade chinesa ou se teria escapado acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan.

“Talvez nunca saibamos a verdadeira origem do SARS-CoV-2”, afirmou recentemente o especialista em doenças infecciosas Cameron Wolfe, da Escola de Medicina da Universidade Duke, que falou à rede ABC News. Ele, porém, ressaltou que investigar essa questão é essencial para prevenir futuras pandemias. “Temos mecanismos de segurança melhores agora… então, algumas coisas boas surgiram disso tudo.”

Discordando da CIA e da BND, um estudo publicado em setembro reforçou a teoria de que o vírus foi transmitido para humanos por animais infectados em um mercado de frutos do mar e vida selvagem, embora a certeza absoluta ainda não tenha sido alcançada.

A constatação foi feita por pesquisadores e baseada e indícios genéticos apontando que o cão-guaxinim poderia ser um possível hospedeiro responsável pela transmissão do vírus para humanos. O artigo, entretanto, não descarta completamente a hipótese de que o vírus tenha sido introduzido no mercado por humanos, embora considere essa segunda teoria pouco provável.

Em fevereiro de 2021, a OMS (Organização Mundial da Saúde) descartou qualquer possibilidade de a Covid-19 ter sido criada ou vazada de um laboratório. “Extremamente improvável”, disse a entidade.

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