A CIA (Agência Central de Inteligência, da sigla em inglês) afirmou no sábado (25) que um vazamento laboratorial é mais provável como causa da pandemia de Covid-19 que a transmissão de um animal infectado para humanos. A mudança na postura da agência, que até então não havia se posicionado com clareza sobre a origem do vírus, foi divulgada dois dias após a posse do ex-parlamentar republicano John Ratcliffe como novo diretor da instituição. A informação foi confirmada por um porta-voz em comunicado enviado à imprensa, com informações reproduzidas pelo site Politico.
O porta-voz disse que a agência tem “baixa confiança” no posicionamento anterior, de que a doença surgiu naturalmente, e continua “avaliando qualquer nova inteligência confiável ou informações de fontes abertas que possam alterar a avaliação. Ele, porém, não detalhou as razões para a mudança de posicionamento nem apresentou dados que corroborem a teoria do vazamento em laboratório em Wuhan, na China.
Apesar disso, a agência destacou que “os cenários de origem natural e relacionada à pesquisa da pandemia de Covid-19 permanecem plausíveis”.
De acordo com um funcionário do governo norte-americano, que falou sob condição de anonimato, a nova análise foi finalizada antes da chegada de Ratcliffe e autorizada por ele para divulgação pública. O ex-diretor da CIA, William Burns, teria solicitado aos analistas que tomassem uma posição sobre a origem da pandemia, mas não manifestou preferência por qualquer das teorias em debate.

O tema ganhou relevância no Congresso dos EUA, especialmente entre republicanos que defendem a hipótese do vazamento laboratorial e apontam para os primeiros casos registrados em Wuhan, onde um laboratório realizava pesquisas com coronavírus. Em contrapartida, estudos de virologistas reforçam a possibilidade de origem natural, com a disseminação inicial do vírus em mercados de animais vivos na cidade chinesa.
A comunidade de inteligência americana tem mostrado divisões sobre o assunto. Em uma avaliação não classificada publicada em 2023, algumas agências indicavam preferência pela teoria de origem natural, enquanto o FBI endossava, com confiança moderada, a hipótese do vazamento, e o Departamento de Energia expressava baixa confiança nessa mesma teoria.
Ratcliffe, que foi diretor de inteligência nacional durante o governo de Donald Trump, já havia criticado publicamente a ausência de um posicionamento definitivo da CIA sobre o tema. Em um evento da Heritage Foundation, ele afirmou que, em 2020, revisou as evidências que sustentavam a origem natural do vírus e concluiu que “a maioria esmagadora dos indícios apontava para um incidente relacionado à pesquisa, e não para uma origem natural”.
Reação chinesa
A China nega veementemente as alegações de que o vírus teria escapado de um laboratório em Wuhan, conforme relatou também o Politico. No entanto, figuras como o senador Tom Cotton, presidente do Comitê de Inteligência do Senado, insistem que “o mais importante agora é fazer a China pagar por desencadear uma praga no mundo”.
A posição chinesa sobre as recentes declarações da CIA foi reforçada nesta segunda-feira (27), quando um alto funcionário do governo de Beijing rejeitou as alegações de que a pandemia de Covid-19 teria se originado de um vazamento em laboratório.
Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, afirmou em coletiva de imprensa que “a conclusão de que um vazamento laboratorial é extremamente improvável foi alcançada pelo grupo de especialistas conjunto China-OMS com base em visitas a campo nos laboratórios relevantes em Wuhan”. Segundo ela, essa conclusão foi amplamente reconhecida pela comunidade internacional e científica, que endossa a teoria de origem natural do vírus.