Repressão durante isolamento atinge grupos mais vulneráveis

ONU recebe relatos de uso desproporcional da força por agentes de segurança em diversos países

As medidas de quarentena para conter o novo coronavírus “não devem ser uma arma que os governos usem para anular a dissidência, controlar a população e até perpetuar seu tempo no poder”. A afirmação é da alta-comissária da ONU Michelle Bachelet, do ACNUDH (Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos).

O ACNUDH afirmou nesta segunda (27) ter informações sobre a atuação de dezenas de países diante do que caracterizaram como uma “cultura tóxica de quarentena” contra a pandemia.

Por meio de uma declaração, Bachelet disse ainda que “atirar, deter ou abusar de alguém que quebrou o toque de recolher para procurar comida é claramente uma resposta inaceitável e ilegal. Assim como tornar difícil ou perigoso para uma mulher chegar ao hospital para dar à luz”.

A crítica mira países como a África do Sul, onde 17 mil pessoas foram presas por desrespeitarem as medidas de restrição impostas pelo governo.

Mulher anda com máscara de proteção em rua de Nova York, EUA (Foto: Evan Schneider/UN Photo)

Uso excessivo de força

“Recebemos relatos sobre o uso desproporcional da força por agentes de segurança, principalmente em assentamentos pobres e ilegais”, afirmou a representante do ACNUDH Georgette Gagnon.

“Balas de borracha, gás lacrimogênio, pistolas de água e chicotes têm sido usado para impor o distanciamento social.”

Nas Filipinas, o número de presos também assusta: foram 120 mil detidos por violarem as medidas de restrição. No Sri Lanka, 26,8 mil também foram presas e há relatos de uso excessivo de força em El Salvador.

Na China, Gagnon afirma que escritórios da ONU receberam relatos de censura tanto dentro quanto fora da internet, com a intimidação, prisão e detenção de vozes dissidentes, como médicos e jornalistas.

As Nações Unidas temem ainda a deportação de imigrantes nos Estados Unidos e na União Europeia durante o período da pandemia.

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