Candidato derrotado no Quirguistão lança partido ‘islâmico’ e defende sharia

Myktybek Arstanbek anunciou que convocará uma 'discussão pública' sobre adoção de leis religiosas no país asiático

O lançamento do partido de orientação islâmica Noor (“luz”, em árabe), pelo político Myktybek Arstanbek gera polêmica no Quirguistão, reportou a Radio Free Europe. O país é tido como o “menos religioso” da Ásia Central.

Arstanbek anunciou a intenção de criar o partido em 14 de janeiro, poucos dias depois de ficar em quatro lugar no pleito que elegeu Sadyr Japarov, após meses de tumulto político.

Apesar de defender os valores islâmicos, o político insiste que sua sigla não terá “agenda religiosa” e que pretende apenas convocar uma “discussão pública” sobre a introdução da sharia – lei islâmica – no Quirguistão.

Candidato derrotado no Quirguistão lança partido 'islâmico' e defende lei Sharia
O político Myktybek Arstanbek na capital do Quirguistão, Bishkek, em dezembro de 2020 (Foto: Facebook/Myktybek Arstanbek)

Na Constituição quirguiz, é vetada a criação de partidos com base na religião. A Carta Magna proíbe a “busca de objetivos políticos por meio de associações religiosas”.

A polêmica envolve o ligeiro aumento de muçulmanos entre a população mais jovem do país. Apesar de o Quirguistão ser a última nação da Ásia Central a passar por uma “islamização”, Arstanbek ganhou espaço ao prometer “espalhar o Islã” na política.

Em uma de suas declarações recentes, ele sugere que o país deve retirar a frase “Estado secular” de sua Constituição. Arstanbek negou intenção de renomear o Quirguistão como um “Estado islâmico”.

Segundo ele, o uso de “Estado secular” pode discriminar as mulheres que usam o hijab, o véu que cobre os cabelos. “Estudantes do sexo feminino podem não ter autorização para entrar nas escolas com seus lenços de cabeça sob o pretexto do secularismo”.

Lei religiosa

Arstanbek nega que o Noor será baseado na religião. “Mas definitivamente defenderemos os princípios religiosos”, disse. “Vamos convocar discussões sobre as normas da sharia e ver o que acontece. Se não funcionar, não funciona”.

Em debate televisionado, o político defendeu a introdução da lei islâmica para “tornar as pessoas mais responsáveis”. Ele ainda sugeriu que as reformas econômicas do Quirguistão devem ter base na sharia.

“O Quirguistão não pode se desenvolver a menos que se torne um Estado muçulmano”, disse. Orador carismático, Arstanbek tornou-se uma figura pública nos anos 1990, quando deixou a engenharia para virar apresentador da televisão estatal.

Desde 2011, o político lidera o Comitê Halal – órgão da Administração Espiritual de Muçulmanos, sob sanção do Estado. Nas eleições, Arstanbek somou apenas 1,7% dos votos.

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