Na negociação para um acordo entre o governo do Afeganistão e o Taleban, iniciadas no Catar no sábado (12), as lideranças do grupo extremista não mencionaram uma trégua e insistem que os afegãos devem estar sob a sharia, a lei islâmica, informou a BBC.
O início das conversas entre os dois lados do conflito é resultado de um acordo de segurança estabelecido entre os EUA e o Taleban em fevereiro deste ano. O atraso nas negociações ocorre em meio a ataques e acordos mútuos de libertação de prisioneiros do exército afegão e do grupo.
Os negociadores reconhecem que as profundas divergências entre os opositores desafiam a continuidade das discussões.
“Os dois lados não precisam concordar 100%, mas esperamos um cessar-fogo e uma paz aceita e apoiada por todos os cidadãos afegãos”, disse o chefe da delegação do Afeganistão, Abdullah Abdullah.
Já o líder talibã, o mulá Baradar Akhund, afirmou que a negociação deve “avançar com paciência”. Akhund enfatizou que quer um “sistema islâmico” no qual todas os grupos vivam em “fraternidade”.
Até o momento, o grupo não apresentou um pacote de medidas específico para a implantação deste sistema. Nos anos 1990, o grupo governou o país com uma interpretação severa da Sharia, lei derivada do Alcorão.
Paz inclusiva
A expectativa é que as negociações apelem para um “processo de paz inclusivo”, afirmou o secretário-chefe da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres.
Um projeto que leve em conta os direitos das mulheres é uma das principais reivindicações da sociedade civil afegã. Com nenhuma representante feminina e a forte resistência do Taleban, há o receio de que o assunto não seja sequer abordado nas discussões.
“Os próprios afegãos devem determinar o conteúdo e a natureza das negociações. Mulheres, jovens e vítimas de conflitos devem ser representados de forma significativa”, reiterou Guterres.