Integrante do Pussy Riot diz que foi forçada a gravar vídeo de apoio a Lukashenko

Ativista diz que sofreu ameaças se não falasse em favor do ditador belarusso e da invasão da Ucrânia por tropas da Rússia

Rita Flores, integrante da banda russa Pussy Riot, diz que foi detida por forças de segurança de Belarus e obrigada a gravar um vídeo no qual manifesta apoio ao presidente do país, o ditador Alexander Lukashenko. As informações são da rede Radio Free Europe.

A ativista diz que foi detida em Minsk, a capital de Belarus, e permaneceu em poder do governo local por quatro dias. Ela conta que sofreu ameaças de agressão e de ser presa por até 15 anos caso não fizesse o vídeo, no qual teria que se manifestar a favor do líder belarusso e da invasão da Ucrânia por tropas russas.

“Eu tive que dizer que tudo que está acontecendo na Ucrânia é como deveria ser, que devemos matar esses fascistas e nazistas, e que a guerra é a única maneira de resolver este problema. Eu gritei e disse que não podia dizer isso e eu nunca faria na minha vida”, disse ela.

Além da gravação do vídeo, a ativista diz que os agentes de segurança fizeram fotos dela ao lado de cartazes que defendem a agressão russa. Depois, ela recebeu ordens para deixar o país e foi proibida de entrar novamente em território belarusso por ao menos dez anos.

Flores chegou a ser presa também na Rússia, tendo passado 15 dias detida por participar de protestos contra o governo Putin.

Protesto do Pussy Riot em fevereiro de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da União Europeia (UE), por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.

As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.

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