Gigante francesa da construção é cúmplice em crimes contra a humanidade, decide tribunal

Lafarge é acusada de pagar grupos extremistas que em troca garantiam a segurança de seus projetos na Síria entre 2013 e 2014

A mais alta corte do Judiciário da França decidiu na terça-feira (16) que a gigante local da construção Lafarge, atualmente parte do grupo suíço Holcim, é cúmplice em crimes contra a humanidade cometidos no tempo em que a empresa tocou obras na Síria. As informações são da agência Reuters.

A empresa francesa vem negando as acusações de que ajudou a financiar o Estado Islâmico (EI) e outros grupos extremistas na Síria. Em sua decisão, no entanto, o tribunal rejeitou o mais recente recurso da Lafarge, que pedia para as acusações serem retiradas.

A companhia obteve uma vitória apenas parcial, com a corte descartando uma segunda acusação, de ter colocado a vida dos funcionários em risco na Síria.

Lafarge: gigante da construção acusada de financiar o terrorismo (Foto: WikiCommons)

A relação entre a Lafarge e os extremistas ocorreu quando a empresa manteve operações no norte da Síria, no início da guerra civil que ainda assola o país. A gigante da construção teria pagado para manter uma fábrica de cimento em funcionamento na região, além de comprar matéria-prima e combustível de grupos armados. As instalações, em Jalabiya, perto de Aleppo, foram desativadas em 2014.

O caso tem desdobramentos também nos EUA, cujos promotores calculam em US$ 5,92 milhões a quantia entregue aos extremistas entre 2013 e 2014. A fusão com a Holcim, que criou a maior produtora de cimento do mundo, ocorreu em 2015, e as investigações iniciadas em 2016 continuam sem um prazo para serem encerradas.

Na França, o escândalo respingou no governo local, pois a empresa chegou a informar as agências de inteligência de sua relação comercial com o EI. Porém, mesmo ciente do fato, a inteligência em nenhum momento alertou que aquilo constituía um crime ou agiu para coibir as ações. Ao contrário, usou a conexão para obter informações sobre a atuação do grupo extremista.

A Lafarge, por sua vez, alega que não tinha como determinar que o dinheiro iria para os extremistas. Em um primeiro momento, o argumento foi acolhido, e as denúncias de crimes contra a humanidade foram retiradas em 2019. Entretanto, em setembro de 2021, a suprema corte francesa reconheceu a acusação e derrubou a decisão favorável, posição que se tornou definitiva nesta terça.

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