Dezenas de afegãs enfrentaram a truculência das forças de segurança do Taleban em Cabul durante um protesto nesta quarta-feira (19) contra a recente ordem de fechamento dos salões de beleza e espaços femininos semelhantes no Afeganistão. A medida, mais uma para excluir as mulheres da vida pública, tem causado grande impacto social em todo o país. As informações são da agência Al Jazeera.
Com mangueiras de incêndio, armas de choque e disparos de advertência com munição letal, os talibãs encerraram o ato na capital.
A ordem que originou a demonstração de insatisfação nas ruas, emitida no mês anterior pelo Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, determina o fechamento de milhares de estabelecimentos voltados à estética feminina em todo o país, muitos dos quais são administrados por mulheres e representam a única fonte de renda para suas famílias. Além disso, a proibição põe fim a uma das poucas oportunidades restantes para as mulheres socializarem fora do lar.
Durante o protesto na Butcher Street, rua que abriga muitos desses salões de beleza, uma das manifestantes carregava uma placa com a frase “Não tome meu pão e minha água”. Manifestações públicas são raras no Afeganistão e, geralmente, são dispersadas à força. Cerca de 50 mulheres participaram do protesto.
Após o incidente, as manifestantes registraram a violência em vídeos e fotos, compartilhando o material com jornalistas. As imagens mostravam autoridades usando uma mangueira de incêndio para dispersar o tumulto, enquanto sons de tiros podiam ser ouvidos ao fundo.
Uma funcionária de um salão, cuja identidade não foi revelada por motivos de segurança, expressou sua frustração: “Hoje, organizamos esse protesto para abrir um diálogo e negociar”, afirmou. “Mas ninguém veio falar conosco ou nos ouvir. Ignoraram nossa presença e, após algum tempo, nos dispersaram com tiros e canhões d’água.”
No final do mês passado, o Ministério, transmitindo uma ordem verbal do principal líder do Taleban, Hibatullah Akhundzada, emitiu o decreto. A proibição abrange a cidade de Cabul e todas as províncias, exigindo que os salões de todo o país encerrem suas operações com um aviso prévio de um mês. Após esse período, os salões devem fechar e apresentar um relatório de encerramento.
O ministério alegou que o uso excessivo de maquiagem estava impedindo as mulheres de realizarem as “abluções (purificações rituais) necessárias para a oração”. Além disso, a utilização de extensões de cílios e tecelagem de cabelo também foi proibida.
Durante os 20 anos de ocupação liderada pelos Estados Unidos, os salões de beleza se espalharam por Cabul e outras cidades afegãs. Eles se tornaram refúgios seguros onde as mulheres podiam se reunir, socializar e também desfrutar de oportunidades comerciais essenciais.
No Afeganistão, desde a tomada do poder central pela organização extremista, mulheres não podem estudar, trabalhar nem sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas inclusive contribui para o empobrecimento da população afegã.