Navalny convoca novas manifestações com a intenção de ‘enervar’ o Kremlin

Opositor de Putin diz que sentimento de raiva contra o conflito é crescente entre o povo russo e que isso afeta o governo

Alexei Navalny, principal nome de oposição ao Kremlin, voltou a conclamar nesta terça-feira (8) novas manifestações contra a invasão à Ucrânia. Pelo Twitter, ele declarou que a resposta dos russos ao conflito “definirá amplamente o lugar da Rússia na história do século 21”. As informações são da rede Radio Free Europe.

Navalny, que cumpre pena de dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude, escreveu em uma série de tweets que o sentimento de raiva contra o conflito é crescente entre o povo russo e que “o impulso anti-guerra continuará aumentando em toda a sociedade, então, os protestos não devem ser interrompidos sob nenhuma circunstância”.

Alexei Navalny, político russo que faz oposição ao presidente Vladimir Putin (Foto: Alexei Ruban/Flickr)

“Uma coisa é Putin matar civis ucranianos e destruir infraestruturas vitais com total aprovação dos cidadãos russos. No entanto, é uma história totalmente diferente se o empreendimento sangrento de Putin não for apoiado pela sociedade”, analisou.

Navalny tem convocado protestos diários contra o ofensiva russa na ex-república soviética. Na semana passada, o político pediu que para que os russos enfrentem autoridades e sejam presos, se necessário for, para manifestarem sua opinião. O apelo parece ter dado resultado. No domingo (6), mais de quatro mil manifestantes foram presos durante atos que ocorreram em diversas cidades, segundo a ONG OVD-Info, que monitora as detenções policiais.

De acordo com a mesma organização, desde o início do conflito, em 24 de fevereiro, mais de 13,5 mil pessoas foram levadas sob custódia.

Mudança de humor

Navalny citou uma série de quatro pesquisas online realizadas em Moscou pela sua equipe, cada uma delas com 700 participantes. Segundo ele, as análises revelaram “mudanças rápidas” em relação à avaliação do papel da Rússia na luta armada.

“Foram necessários alguns dias de guerra para provocar mudanças radicais de humor entre os russos”, observou ele. “As pessoas geralmente estão dispostas a mudar sua postura, mas apenas se as envolvermos no diálogo e fornecermos informações verdadeiras sobre a guerra”.

Navalny observou ainda que o Kremlin também pode ver essas dinâmicas, o que justificaria o nervosismo do governo russo e “as tentativas desesperadas de encerrar a campanha de guerra o mais rápido possível”, acrescentou.

Quem é Navalny?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo Putin, em virtude da qual ele cobra uma profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua fundação anticorrupção, a FBK, de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto do ano passado, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poder ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da FBK que ele criou.

Já em setembro de 2021, uma terceira acusação, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década, sendo mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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